sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Inferno (1908) 
Henri Barbusse (1873-1935) - França 
Tradução: Eduardo Brandão 
Rio de Janeiro: Globo, 1988, 226 páginas


O mote é bastante engenhoso. Um homem sem nome, de cerca de 30 anos, muda-se para um hotel em Paris, vindo da província, para assumir o emprego em um banco. Enquanto aguarda os trâmites burocráticos, descobre, por acaso, uma fresta na parede que dá para o quarto vizinho e passa a bisbilhotá-lo. Mas, o que em princípio era apenas curiosidade, logo transforma-se em obsessão: ele deixa de viver sua vida para observar a vida alheia. Pelo cômodo contíguo, contempla um parto; uma jovem que, por compaixão, se despe para um velho moribundo; um casal de adolescentes descobrindo o amor e o sexo; uma mulher casada e seu amante; um casal de lésbicas. Trata-se de um romance híbrido: realista nas cenas presenciadas, filosófico nas reflexões que suscita, naturalista nas percepções sobre o ser humano - e o relato, impressionista, provoca uma espécie de vertigem no leitor. No final, sem o emprego, o narrador volta para o lugar de onde veio, desencantado com a hipocrisia da sociedade. Destaques para o capítulo XIV, onde há uma minuciosa descrição do processo de putrefação de um cadáver, e para a página 210, em que, semelhante ao D. Quixote, o narrador flagra um escritor descrevendo o enredo do livro que estamos lendo.


Avaliação: BOM


Entre aspas

"Em contato com os homens, as coisas se consomem com uma lentidão desesperadora" (p. 11)

"Não evocamos uma coisa quando a chamamos por seu nome. As palavras, as palavras - apesar de as conhecermos desde a infância, não sabemos o que são" (p. 38)

"Não amar mais é pior do que odiar, porque, digam o que quiserem, a morte é pior que o sofrimento" (p. 79)

"O tempo é mais cruel do que o espaço. O espaço tem algo de morto; o tempo, de mortífero" (p. 97)

"Tudo isso está demasiado na moda para não ficar fora de moda amanhã" (p. 217)


(Agosto de 2015)



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