sábado, 12 de setembro de 2015



As filhas do fogo (1854) 
Gérard de Nerval (1808-1855) - França 
Tradução: Luiza Jorge Neto (prosa) e M. João Gomes (poemas)
Lisboa: Editorial Estampa, 1997, 222 páginas


Miscelânea que reúne, sob o título de "As filhas do fogo", cinco contos ("Angélica", "Silvia", "Jemmy", "Octávia" e "Emília"), uma peça de teatro ("Corilla"), três ensaios ("A Alexandre Dumas", "Canções e lendas do Valois" e "Ísis"), e uma recolha de oito poemas, "As quimeras". Livro desigual, mas instigante. "Angélica" certamente foi lida por Jorge Luiz Borges (1899-1996), pois há muitas similitudes entre um e outro. Trata-se de uma história construída em espiral, em que mais que o enredo, importa a forma de narrar. A destacar ainda o ensaio "Canções e lendas do Valois", que contém uma fábula, "A rainha dos peixes", impressionante por sua atualidade - um libelo ecológico avant la lettre. Em outro, "Ísis", o autor discute a influência oriental sobre o catolicismo, mostrando como a adoração à Virgem Maria é uma atualização do culto à deusa egípcia Ísis. "Emília" é um conto antológico: um jovem tenente francês mata um militar alemão em um confronto direto durante a anexação da Alsácia, no final do Século XVIII; muitos anos depois, casa-se com uma moça da região ocupada que, por fatalidade, vem a ser filha do oficial que ele eliminou. "Silvia", pelo final irônico, e "Jemmy", pelo inusitado cenário, o faroeste norte-americano, também merecem realce. Entre os poemas, o belíssimo "El desdichado".

Avaliação: MUITO BOM

Entre aspas

"(...) Cristo, o último dos reveladores, (...) em nome de uma razão mais alta, outrora despovoara os céus" (p. 173)

(Julho de 2015)

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