sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Bom dia para os defuntos (1970) 
Manuel Scorza (1928-1983) -  Peru   
Tradução: Hamílcar de Garcia 
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975, 227 páginas 


Apesar da desnecessária e às vezes irritante interferência do autor, no sentido de limitar-se a uma panfletária denúncia contra a ação torpe de uma multinacional norte-americana, trata-se de um dos maiores romances da literatura latino-americana de todos os tempos. A narrativa, recusando o caráter de documento, ganha ares míticos e as personagens extrapolam a representação de camponeses peruanos oprimidos pelo poder, pela miséria, pela ignorância para ganhar dimensão cósmica. Inesquecível a luta liderada por Héctor Chacón, o Olho de Coruja, contra os desmandos da Cerca que avança pelo altiplano andino engolindo as terras dos comuneiros. Livro triste, possui uma dos mais contundentes primeiros capítulos da literatura mundial, meras cinco páginas que resumem toda a tragédia da América Latina: a moeda do Dr. Montenegro, um mandachuva local, cai no chão e lá permanece sem que ninguém tenha coragem de tocá-la. Alicerçado numa poderosa linguagem que mescla o mágico e o lírico, este romance consegue surpreendente resultado: ao mesmo tempo em que se filia à tradição ocidental, renova-a e problematiza-a formalmente. Louvável o trabalho do tradutor que conseguiu transformar o título original anódino, "Redobles por Rancas", no magnífico "Bom dia para os defuntos". 


Avaliação: MUITO BOM 

(Outubro, 2015)



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