sábado, 28 de novembro de 2015

Confabulário (1952) 
Juan José Arreola (1918-2001) - México          
Tradução: Iara Tizzot        
Curitiba: Arte e Letra, 2015, 158 páginas  



Coletânea de 28 narrativas curtas, bastante desiguais, algumas excelentes, como "O guarda-chaves", ou belíssimas, como "O silêncio de Deus", outras dispensáveis, como "Baby H.P." ou "Anúncio". O autor, neste livro, trafega entre metamorfoses ("O rinoceronte", "Rústico"), fábulas ("O prodigioso miligrama", "Parábola da troca"), invenções borgianas ("Sinésio de Rodes", Nabónides", "In memoriam"), invenções kafkianas ("Parturient montes", "Em verdade vos digo", "Uma mulher amestrada"), tudo perpassado por um humor insólito, mais evidente em textos como "Monólogo do insubmisso", "Uma reputação", "Carta a um sapateiro que consertou mal uns sapatos"*. Infelizmente, a abundância de subgêneros e a disparidade dos resultados acabam comprometendo o conjunto.  


* Vale a pena observar a semelhança de procedimentos com o contista brasileiro Murilo Rubião (1916-1991).


Avaliação: BOM 


(Novembro, 2015)


Entre aspas

"Durante dez anos lutei com um rinoceronte; sou a esposa divorciada do juiz McBride". (p. 23)

"Este país é famoso por suas ferrovias (...). Até agora não foi possível organizá-las devidamente, mas foram feitas já grandes coisas no que se refere à publicação de itinerários e à expedição de passagens. As guias ferroviárias abarcam e enlaçam todos os povoados da nação; emitem-se passagens até para as aldeias mais remotas e pequenas. Falta somente que os comboios cumpram as indicações contidas nas guias e que passem efetivamente pelas estações. Os habitantes do país assim esperam; enquanto isso, aceitam as irregularidades do serviço e seu patriotismo lhes impede qualquer manifestação de desagrado". (p. 32)

"Verdadeiramente queria fazer algo diabólico, mas não me ocorre nada". (p. 57)

"Naturalmente, não me conto entre as crianças felizes. Uma alma infantil que guarda pesados segredos é algo que voa mal, é um anjo lastrado que não pode tomar altura". (p. 145)

"Por que o bem é tão indefeso? Por que se deixa cair tão cedo? Mal se elaboram cuidadosamente umas horas de fortaleza, quando o golpe de um minuto vem pôr abaixo toda a estrutura. Cada noite me encontro esmagado pelos escombros de um dia destruído, de um dia que foi belo e amorosamente edificado" (p. 146)



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.