terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Homens em guerra (1917) 
Andreas Latzko (1876-1943) - Hungria          
Tradução: Cláudia Abeling         
São Paulo: Carambaia, 2015, 158 páginas  



O autor, húngaro de nascimento, escreveu em alemão este conjunto de seis contos publicado ainda no decorrer da I Guerra Mundial - e proibido de circular no território de todos os países envolvidos no confronto. Libelo pacifista, exibe a carnificina sem sentido do conflito, tendo como espaço a frente de batalha do exército austro-húngaro nas fronteiras com a Itália e a Rússia. A loucura que acomete os soldados ("A partida", "O companheiro - um diário", "A morte de um herói"), a hipocrisia e o cinismo dos comandantes ("O vencedor"), a tragédia do retorno dos combatentes desfigurados ("A volta para casa"), o horror da batalha ("Batismo de fogo"). Nesta última narrativa, a melhor do livro, acompanhamos a chegada ao front da tropa de "pedreiros, mecânicos e camponeses" (p. 46) convertidos em soldados liderada pelo engenheiro Rudolf Marschner, agora capitão, e pelo tenente Erich Weixler. Do conflito entre a repugnância do primeiro e a euforia do segundo nasce uma profunda reflexão sobre a irracionalidade humana. O texto da tradução, em geral muito bem conduzido, escorrega em algumas poucas atualizações lamentáveis - que, por serem poucas, saltam aos olhos: "focada" (p. 21), "percevejos são um porre" (p. 23), "vapt-vupt" (p. 44), "factóide" (p. 117), "chamando o Hugo" (p. 145).
   

Avaliação: MUITO BOM 

(Dezembro, 2015)


Entre aspas

"Que loucura era ficar parado ali, numa espera idiota pela morte, perecendo em meio à sujeira e ao sangue, como um animal na terra nua, enquanto os outros estavam sentados, alegres, limpos, bem-vestidos, em salas iluminadas, ouvindo uma peça musical, dormindo em suas camas macias, sem medo, sem perigo." (p. 61)

"Um civil não conseguia compreender que um general só comanda de verdade na guerra e que, durante os tempos de paz, não passa de um tipo de professor severo de colarinho dourado; um figurante que, de tanta monotonia, berra até ficar rouco". (p. 94)

"Sou realmente eu o doente, porque não consigo expressar ou escrever essa palavra sem que o ódio mais visceral engrosse minha língua? Não são os outros os loucos que, com uma mistura de fervor religioso, nostalgia romântica e simpatia envergonhada, encaram como que hipnotizados essa máquina de produzir aleijados e cadáveres? (p. 106)


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