terça-feira, 3 de novembro de 2015

Mathilda (1820) 
Mary Shelley (1797-1851) - Inglaterra     
Tradução: Bruno Gambarotto      
São Paulo: Grua, 2015, 153 páginas  



Publicado somente em 1959, ou seja, 139 anos depois de escrito, esse romance da autora de Frankenstein expõe um tema que é um dos maiores tabus da sociedade humana, o incesto - no caso, não consumado. Mathilda, nascida de um "homem de elevada posição" (p. 14) e de uma mulher de "pequena fortuna" (p. 17), que se amavam intensamente, fica órfã logo após o nascimento. Inconsolável, o pai deixa-a com uma tia e perde-se no mundo, "entregue à mais profunda melancolia" (p. 21). Criada em uma propriedade rural no interior da Escócia, ela cresce solitária e triste. Após 16 anos, o pai retorna e ao vê-la toma-se de paixão pela filha. Transfere-a para Londres, mas por pouco tempo, pois, incomodado pela possibilidade de ela ser cortejada por outros, encaminha-a para o nordeste da Inglaterra. Lá, acaba confessando sua loucura e, perturbado, decide fugir. Mathilda, entre o horror da descoberta e o desejo reprimido, vai atrás do pai, mas encontra-o já morto, após suicidar-se. Ela então se recolhe em um lugar ermo no norte da Inglaterra, onde conhece por acaso um poeta, que se torna seu confidente. Tuberculosa, ela prepara-se com alegria para a morte, que a colocará "em eterna união mental" com o pai, de quem, anseia, "nunca mais" se separará (p. 149). Enquanto aguarda o fim, escreve suas memórias.


Avaliação: MUITO BOM 

(Novembro, 2015)


Entre aspas

"Antes minha vida fora como um agradável regato bucólico, jamais destinado a deixar os prados nativos e, uma vez cumprido seu percurso, absorvido para não deixar rastro. Parecia-me, agora, que eu era um rio de variados trechos e correntes atravessando uma paisagem fértil e aprazível, sempre em transformação, sempre belo. Ai de mim! Eu não conhecia os selvagens eremitérios que estava prestes a encontrar; as rochas que lhe cortariam as águas e a paisagem monstruosa que encontraria o mais distorcido reflexo em suas ondas". (p. 38)


"(...) para alguém que sofre, uma cidade grande faz-se pouso assustador". (p. 98)







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