terça-feira, 3 de março de 2020

O velho Deus (1926)
Luigi Pirandello (1867-1936) ITÁLIA      
Tradução: Bruno Berlendis de Carvalho          
São Paulo: Berlendis & Vertecchia, 2001, 207 páginas



Reunião de 12 contos com a marca característica do Autor: uma profunda compaixão por seus personagens, sempre trágicos, mas sempre envolvidos por um olhar de profunda compreensão. O que torna as histórias magistrais é o toque de humor que há em todas elas, mas não um humor corrosivo, de alguém que se sente superior - o que ocorre nos autores de sátiras -, mas o humor de quem compartilha das falhas humanas. E isso é o que torna o Autor um dos grandes nomes da literatura universal - e um dos meus preferidos. Há pelo menos três pequenas obras-primas aqui: "Ao valor cívico", narrativa em que se encontram a tragédia pessoal e a crueldade do destino (um homem salva, às cegas, um sujeito que estava à deriva no mar e quando chega à praia descobre que trata-se do amante de sua mulher); "Quando eu era louco...", uma profunda reflexão a respeito da inversão de valores da sociedade moderna, na qual o altruísmo é ridicularizado e o egoísmo exaltado; "A pensão vitalícia", história de um camponês que, prevendo a falta de forças para continuar tocando seu pedaço de terra, repassa-a, em troca de uma pensão vitalícia, sendo que quem a adquire espera que ele viva pouco, e, no entanto, por uma dessas ironias do destino, ele, centenário, enterra dois dos compradores; e o mais pungente deles, "Limões da Sicília", história de um jovem que desfaz de suas poucas posses para proporcionar à sua noiva a possibilidade de se tornar cantora, e, cinco anos depois, quando vai ao seu encontro, em Nápoles, ela simplesmente o ignora. Há ainda momentos de extremo lirismo ("O velho Deus", "Tanino e Tanotto", "O nascer do sol") e de humor escrachado ("Concurso para referendário no Conselho de Estado", "In corpore vili", "Um convite à mesa"). Um deleite para quem ama a verdadeira literatura.



Avaliação: MUITO BOM

(|Março, 2020)


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