sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

 Zazie no metrô (1959)

Raymond Queneau (1903-1976) -  FRANÇA  

Tradutor: Paulo Werneck  

São Paulo: CosacNaify, 2009, 188 páginas


Curioso esse romance: propõe-se a uma narrativa anárquica, acompanhando um dia na vida de um bando de personagens pouco convencionais, tudo para terminar com uma chave de ouro, no melhor estilo das... narrativas convencionais... Vamos ao enredo: Zazie é uma garota de idade indeterminada, digamos saindo do que chamaríamos hoje de pré-adolescência para a adolescência, e por isso às vezes ela é descrita com uma pirralha mimada e ingênua, outras vezes como uma rebelde que bebe panaché e que percebe muito bem o que se passa à sua volta. Zazie é deixada com o tio, Gabriel, e sua mulher, Marceline, para passar o dia - na verdade, para que a mãe dela possa ter um momento de sossego com um amante eventual. Zazie deseja conhecer o metrô, mas os trabalhadores encontram-se em greve e seu tio decide levá-la para rodar por Paris com o táxi de seu amigo, Charles. Ao longo do dia, eles vão se meter em diversas confusões - dignas daquelas comédias-pastelão que passavam na televisão à tarde, incluindo,  quase no final, uma briga que poderia ser de tortas na cara. Zazie é assediada por um sujeito, que se diz policial, que se faz de policial, que pode ser policial, e que se agrega ao grupo - ele não é reconhecido por Gabriel e seus amigos apenas porque... tirou o bigode... Enfim, o grupo encontra um ônibus cheio de turistas, guiados por outro amigo de Gabriel, Fiódor Balanovitch, que terminam a visita à Cidade-Luz num show de transformismo de Gabriel/Gabriela numa boate do submundo parisiense. Então, no dia seguinte, quando Zazie encontra-se com a mãe e ela pergunta se tinha visto o metrô, objetivo de sua visita, ela responde que não. "Então, o que você fez?", ela indaga, e Zazie diz: "Envelheci" - este, o único momento sublime de um livro mediano, que tenta se salvar pela linguagem emulada diretamente das ruas, mas que não convence. É interessante que todo o tempo eu me sentia lendo um dos livros de Oswald de Andrade (1890-1954), Memórias sentimentais de João Miramar (1924) ou mesmo Serafim Ponte Grande (1933), só que sem a genialidade do brasileiro.


Avaliação: NÃO GOSTEI

(Fevereiro, 2021)

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