terça-feira, 8 de setembro de 2020

A chuva imóvel  (1963)
Campos de Carvalho (1916-1998) BRASIL         
    Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963, 104 páginas





Talvez seja a única narrativa do Autor que possua um fiapo de enredo, ainda que isso não tenha a menor importância para a economia do texto. André tem uma irmã gêmea, Andréa, por quem nutre uma atração erótica que é claramente um sintoma de autoimolação... Ele estava sendo criado para ser "alguém" na vida, para seguir a carreira diplomática, por sua inteligência e modos civilizados, um verdadeiro Medeiros da velha cepa. Mas a morte do irmão, que optou por rebelar-se contra a farsa de uma família aristocrática decadente e tornou-se mensageiro do Correio, sempre em cima de sua bicicleta, acaba por mostrar a André a inutilidade das convenções sociais. Ele então torna-se arquivista onde o marido de Andréa é chefe, e pouco a pouco vai enlouquecendo. Essa, aliás, é a trilha perseguida pelo Autor, a loucura como única forma possível de enfrentar um mundo sem qualquer sentido, como diz o narrador: "ESTE ANO NÃO HAVERÁ PRIMAVERA; nem este ano nem em nenhum outro, enquanto houver Auschwitz ou Little Rock*" (p. 33). Mas, aqui, não há saída: ao protagonista só resta vingar-se através do suicídio.



* Cidade que se tornou símbolo do movimento anti-racista estadunidense.



 Avaliação: BOM 

(Setembro, 2020)

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