quinta-feira, 2 de abril de 2020

O Anjo Azul (1905)
Heinrich Mann (1871-1950) ALEMANHA      
Tradução: Erlon José Paschoal           
São Paulo: Estação Liberdade, 2002, 257 páginas






O professor Raas - apelidado de Unrat (Lixo, em português) - dá aulas de gramática e literatura clássica no ginásio local há 25 anos (o lugar não é mencionado diretamente, mas trata-se de Lübeck, cidade-natal do Autor). Ele conduz suas turmas com o autoritarismo e o sadismo inerentes aos medíocres. Ressentido, o mestre-escola persegue os alunos, não só dentro do recinto das salas de aula, como também julga-os pelo que fazem extramuros - defensor que é de "obediência estrita e costumes rígidos" (p. 43). Há anos a fama de moralista empedernido de Unrat provoca nos habitantes um misto de desprezo e ironia. A vida de Unrat, no entanto, muda, quando ele resolve averiguar a conduta de três alunos "suspeitos": o aristocrata rural von Ertzum; o proletário Kieselack; e o burguês Lohmann. A pista para as investigações é um poema inacabado, escrito por Lohmann, interceptado pelo professor, dedicado a uma musa chamada Rosa Fröhlich, que, a princípio, ele julga ser uma artista de teatro - sua busca por ela é hilária. Até que finalmente descobre que trata-se de uma cantora de cabaré, do cabaré que empresta o nome ao título do livro. Unrat, um homem que "não fumava muito, e raramente bebia; não tinha nenhum dos vícios burgueses" (p. 32), acaba por envolver-se pateticamente com Rosa, e, pouco a pouco, afunda-se numa espiral de autopunição, sadomasoquismo e vingança que o leva à demissão do emprego. Casa-se então com Rosa - para escárnio da cidade - e transforma sua moradia em um local "onde se jogavam altas quantias, bebia-se caro e onde se encontravam pessoas do sexo feminino que não eram totalmente prostitutas, mas também não eram damas; onde a dona da casa, uma mulher casada, a esposa do professor Unrat, cantava maliciosamente, dançava de modo inconveniente, e, quando se agia corretamente, era até mesmo possível tê-la por alguma bagatela" (p. 202). Por meio do comportamento liberal de Rosa, o professor atrai para o bordel que virou sua casa os mais diversos tipos, entre eles vários de seus ex-alunos, muito bem postos na sociedade, levando-os à ruína pelo jogo, pelos presentes ofertados a Rosa, pelas brigas domésticas provocadas pela frequência àquele lugar - mostrando, de certa maneira, que também o moralismo deles era simples verniz. Assim, Rosa torna-se, para o professor, uma arma efetiva para a condenação da sociedade que sempre o menosprezou. Unrat é um personagem desprezível, capaz das piores coisas para se desforrar das humilhações sofridas, até mesmo a sua autodestruição. Caricatura que antecipa o fascismo, o professor Unrat é alimentado pelo ressentimento, que conduz todas as suas ações - muito parecido com o que temos hoje, um tirano medíocre à frente do governo, um lixo humano, que não tem pejo de lançar mão de qualquer subterfúgio para concluir sua obra de perversão.




Curiosidade:

À pág. 179, aparece um brasileiro (que reaparecerá em vários momentos para a frente):
"(...) a família acabou sentando-se, para o café em sua barraca de praia, com dois comerciantes de Hamburgo, um jovem brasileiro e um industrial saxônio".
O brasileiro será um dos apaixonados por Rosa Fröhlich, chegando mesmo a presenteá-la com uma joia caríssima...




 Avaliação: MUITO BOM


(Abril, 2020)


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