terça-feira, 25 de setembro de 2018

Juncos ao vento (1913)
Grazia Deledda (1871-1936) - ITÁLIA                   
Tradução: Maria Augusta de Mattos       
São Paulo: Carambaia, 2015, 224 páginas





A certa altura, Efix Maronzu, o verdadeiro protagonista do romance, afirma: "Somos como os juncos ao vento. (...) Somos juncos, e o destino é o vento" (p. 204). E a narrativa mostra isso: os personagens agem como títeres, no aguardo da escrita de suas vidas ínfimas. O cenário é Galtellì (no livro, Galte), interior da Sardenha, no final do século XIX, um território dominado pela miséria e pela malária - e é ali que se desenvolve a história das irmãs Pintor, Ruth, Ester e Noemi, membros de uma família aristocrática decadente, isoladas num sobrado em ruínas, envergonhadas da pobreza, mas arrogantes, tão afundadas no passado "que o presente quase não lhes interessava mais" (p. 54). Cabe a Efix, o servo, manter as irmãs com a renda das hortaliças que cultiva no sítio, único pedaço de terra que restou, e que elas "vendiam em casa às escondidas" (p. 89). A enfadonha rotina da aldeia, no entanto, é alterada com a chegada de Giacintino, um sobrinho das irmãs Pintor, filho de Lia, que rebelou-se contra a opressão da família,  e fugiu, com a ajuda de Efix, que, na sequência, acaba assassinando dom Zame, o pai, um crime sem testemunhas. Giacintino trabalhava como funcionário da alfândega, em Civitavecchia, no litoral, e acabou gastando em jogos o dinheiro de um comandante de navio aposentado que o havia deixado sob sua custódia. Ele busca então refúgio na aldeia de sua mãe. Mas ao invés de trazer paz e tranquilidade aos parentes, como imaginava Efix, provoca transtornos. Passa os dias em festas e folguedos; falsifica assinaturas de uma das tias, Ester, para obter empréstimos com Kallina, a agiota; compromete-se com Grixenda, filha da velha Pottói, "moça da pior raça de Galte" (p. 101), segundo as palavas de outra tia, Noemi, que se vê enredada com o sobrinho. Descobertas suas falcatruas, Giacintino foge para Oliena, onde passa a trabalhar num moinho. Kallina executa as notas promissórias, resgatadas por Predu, primo rico das irmãs Pintor, e Ruth, a mais velha, morre, de desgosto. Para acalmar sua consciência, Efix resolve pagar penitência e ganha o mundo como guia de cegos. Meses depois, volta à aldeia e adoece. Antes de morrer, entretanto, vê Giacintino cumprir sua promessa de desposar Grixenda e assiste ao casamento de Predu com Noemi. Após confessar-se com o padre Paskale, sucumbe, em paz. Muito mais que aprofundar os traços psicológicos dos personagens, "juncos ao vento", a Autora deixa o destino agir sobre eles. O final feliz é digno dos mais ortodoxos romances românticos.




(Setembro, 2018)

Avaliação: BOM

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