sábado, 19 de maio de 2018

Contos de assombro 
Seleção: Alcebiades Diniz       
Tradução: Vários 
São Paulo: Carambaia, 2018, 220 páginas



Coletânea de 18 contos e um ensaio (do francês Guy de Maupassant) sobre o "assombro", um conceito bastante elástico, que o Organizador enfeixa como aquelas narrativas que "preservam seu efeito de estranheza". Assim,  temos textos que poderíamos filiar à corrente "diabólica", ou seja, que buscam representar a figura do Diabo, o próprio, como o ótimo "Notícia de um homem desconhecido ou O diabo em Berlim", do alemão E.T.A. Hoffmann (1776-1822); "O pacto infernal - Pequeno romance", do francês Charles Nodier (1780-1844); "O diabo e Tom Walker", do norte-americano Washington Irving (1783-1859); "Janet, a troncha", do escocês Robert Louis Stevenson (1850-1894) e "A paz", do russo Leonid Andrêiev (1871-1919). Em outros, a presença do Mal é apenas sugerida, como em "O álbum do Cônego Alberico", do inglês M.R. James (1862-1936), e "O espelho negro", do argentino Leopoldo Lugones (1874-1938). Para mim, os melhores contos ainda são aqueles em que o fantástico, ou seja, o inexplicável no qual o cotidiano está mergulhado, se impõe, como no ótimo "O cachorro", do russo Ivan Turgueniév (1818-1883), na aquarela que é "A mulher no espelho - uma reflexão", da inglesa Virginia Woolf (1882-1941), ou na obra-prima, "O sopro", do italiano Luigi Pirandello (1867-1936). Embora, como disse, no conceito de "assombro" usado pelo Organizador caiba quase tudo, algumas narrativas afastam-se bastante da proposta, como é o caso da fábula moralizante "Uma jaula de animais ferozes", do francês Émile Zola (1840-1902); da contundente "Irmã Aparición", da espanhola Emilia Pardo Bazán (1851-1921); ou do espiritualista "A plenitude da vida", da norte-americana Edith Wharton (1862-1937). O Organizador gentilmente incluiu três autores brasileiros, mas o resultado é que são os três contos mais fracos do livro: "Pavor", de João do Rio (1881-1921), ainda é digerível, mas a página "O juramento", de Humberto de Campos (1886-1934), é risível, para além de totalmente inverossímil (sim, é necessário verossimilhança mesmo quando se trata de coisas fantásticas), e "O soldado Jacob", de Medeiros e Albuquerque (1867-1934) é um relato de psiquiatria forense (vista sob um ângulo exótico). E, neste caso, havia boas opções nacionais, como Machado de Assis ou Afonso Arinos, por exemplo. Resta perguntar ainda por que será que o Organizador optou por um texto atribuído a Edgar Allan Poe (1809-1949), "Um sonho", abrindo mão de usar um de seus magníficos, esses sim, contos de assombro. Por fim, "O arame farpado", do uruguaio Horácio Quiroga (1879-1937) é um conto forte, sim, mas que não tem nada de "assombro" - e Quiroga tem contos assombrosos, como o magnífico "A insolação" ou os terríveis "O travesseiro de plumas" e "A galinha degolada". Mas não se trata, evidentemente de uma crítica ou reparo, pois gosto não se discute. Essa antologia já pode ser colocada entre as referências de livros sobre o assunto.



(Maio, 2018)



Avaliação: MUITO BOM

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