Gente independente (1934)
Halldór Laxness (1902-1998)
- ISLÂNDIA
Tradução: Guolaug Rún Margeirsdóttir
Lisboa: Cavalo de Ferro, 2007, 556 páginas
Este romance conta a história de
Bjartur (Guodbjartur Jónsson), um homem “(...) que se tornou prodigioso por
semear o campo do seu inimigo durante toda a sua vida” (p. 554). Bjartur
é um personagem dos mais complexos: antipático, avaro, cruel, egoísta, machista,
teimoso – mas sincero, honesto, fiel, ingênuo. Após anos a fio trabalhando como
empregado de uns parentes abastados, Bjartur consegue finalmente adquirir umas
terras, antes chamadas Casas de Inverno e agora Casas de Verão. Mudando o
nome, ele acreditava colocar um fim à maldição que nela recaía, por ter sido morada de
uma viúva, Gunnvör, responsável por inúmeros assassinatos, sob influência,
diziam, de um lendário feiticeiro chamado Kólumkilli. Verdadeiro ou não, o anátema acompanha a vida de Bjartur. Sua primeira mulher, Rósa, que sem que
ele soubesse já chegou à fazenda grávida do “(...) homem mais poderoso do
distrito (...)” (p. 467), morre no parto da filha, Ásta Sóllilja (“Amor” e
“Lírio do Sol”). Sua segunda mulher, Finna, que carrega consigo a mãe, Hallbera,
sucumbe aos infindáveis partos de crianças natimortas. Sobrevivem Helgi, Gvendur e o caçula Nonni. Helgi morre (ou se mata) ainda
adolescente (V. a terrível descrição do encontro do corpo e o descaso do pai à
p. 408). Nonni vai embora para a América (Estados Unidos) e nunca mais dá
notícias. Gvendur, que um dia quis seguir os passos do irmão caçula, acaba
envolvido com grevistas que estão construindo o porto de Fjördur. Ásta é expulsa de casa após ficar grávida de “(...) um
célebre bêbedo e freguês prisional (...) que (...) vive às custas das ajudas
paroquiais com uma horda de filhos e ainda por cima sofre de uma terrível
tuberculose (...)" (p. 426). No final, endividado, Bjartur perde tudo o que
possui, resgata a relação com a filha Ásta, que nesta altura tem mais um
filho e padece de uma tuberculose terminal, e viaja para o norte, para ocupar
um pedaço de terra que pertence à sogra, Hallbera, agora com mais de 90 anos.
Com eles, seguem apenas a cadela sem nome e o cavalo Blesi, ambos também
velhíssimos. A narrativa atravessa os últimos anos do século XIX e os dois
primeiros decênios do século XX e mostra uma Islândia miserável formada por
pequenos agricultores e pecuaristas (de ovelhas) padecendo de fome e de
privações de toda espécie, um povo que ao lado de crenças cristãs ainda
acredita piamente na forças sobrenaturais (elfos, trolls e similares), mas que,
acima de tudo, mantém-se rijo, como Bjartur, o homem “(...)
que nunca lamentava coisa alguma” (p. 439). Às vezes, o livro torna-se enfadonho, mas vale a pena persistir e vencer suas mais de 500 páginas em tamanho 23 x 15 e corpo 12: o prêmio é uma história singular e muito bem escrita.
(Janeiro,
2017)
Avaliação:
MUITO BOM
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