segunda-feira, 6 de maio de 2019


Fronteira 
(1935)

Cornélio Penna (1896-1958BRASIL 
São Paulo: Sesi-SP, 2017, 139 páginas





Talvez o resumo desse romance possa ser esse: "tudo se imobilizara em torno dela [Maria Santa], prolongando, indefinidamente, as vidas indecisas, obscuras, indiferentes" (p. 17). Narrativa deliberadamente vaga, imprecisa, que muitas vezes flerta com o fantástico, conduzida por um revolucionário, que participou da Segunda Revolta da Armada, em 1893, e se refugia numa cidade das montanhas de Minas Gerais; alguém que sente-se em processo de enlouquecimento, lembrando que tem que viver dentro de si mesmo, "como numa prisão pequena e escura que se fecha aos poucos, em um isolamento de doença e maldade" (p. 79). A história, se é que há, acompanha o período final da vida de Maria Santa, uma figura mística, religiosa, "que não saía de casa" e "passava dias seguidos fechada em seu quarto, recebendo na porta a salva de prata onde lhe arrumavam as refeições" (p. 36-37). Em torno de Maria Santa surgem e somem figuras fantasmáticas, que habitam aquele "vale descampado", "ponto de encontro dos velhos, dos doentes, de todos os infelizes da povoação e seus arredores" (p. 37). O narrador desenvolve por Maria Santa um misto de respeito e admiração por seus pretensos poderes místicos, mas também se sente atraído por uma estranha luxúria que dela emana. Assim, o romance se realiza nessa "oposição entre o mundo real e o mundo interior resultante dessa retirada voluntária" tornando-se "uma luta angustiante de fronteira da loucura" (p. 138).



Avaliação: BOM


(Maio, 2019)