domingo, 5 de setembro de 2021

 Tempestades de aço (1920)

Ernst Jünger (1895-1998) - ALEMANHA

Tradução: Marcelo Backes     

São Paulo: CosacNaify, 2013, 347 páginas


Trata-se de um relato da participação do Autor no front da I Guerra Mundial, como oficial do exército alemão, no qual se alistou como voluntário e permaneceu entre janeiro de 1915 e agosto de 1918, e, "não contadas insignificâncias como tiros de ricochete e feridas abertas", "fora atingido pelo menos catorze vezes" (p. 345-346) - recebendo por isso, a Ordre pour le méritre, ao final do conflito. O livro é uma narrativa bastante objetiva do confronto - o Autor se encontrava na frente ocidental, entre terras francesas e belgas, combatendo as forças aliadas (ora ingleses, ora indianos, ora neozelandeses). O que mais impressiona, de fato, não é nem mesmo a forma quase científica com que são descritos os horrores da guerra - uma objetividade que se faz por vezes desumana -, mas o orgulho e o fascínio demonstrados pela guerra. São inúmeras frases como essa: "Durante a tarde, a aldeia permanecia sob o fogo dos mais diferentes calibres. Apesar do perigo, eu só conseguia me separar da lucarna no sótão de minha casa com muita dificuldade, pois eram empolgante o espetáculo das guarnições isoladas e dos mensageiros correndo afoitos; muitas vezes eles se jogavam no chão, no terreno bombardeado, enquanto à direita e à esquerda deles a terra se levantava em redemoinho" (p. 162). Ou essa: "Ao avançar, uma fúria ancestral tomou conta de nós. Um desejo supremo de matar deu asas a nossos passos. A raiva me arrancou lágrimas amargas" (p. 279). Estranhamente, o Autor, ao contrário de outras narrativas da mesma época, em momento algum questiona os superiores que enviam os subordinados para a carnificina ou coloca em xeque a ideia da guerra em si - que, ao fim e ao cabo, serve apenas para estabelecer marcos políticos à custa de vidas humanas, empolgadas com abstrações sem sentido como nacionalismo, patriotismo, etc. Ele simplesmente marcha para a frente, empolgado com a guerra-ela-mesma, que tanto arrebatou os movimento protofascistas do começo do século XX. Apesar de tudo - e isso demonstra que o que no campo literário a intenção do autor é o que menos importa -, o livro começa com uma ilusão e termina com a imposição do real. "Havíamos deixado as salas de aula, bancos de escolas e mesas de trabalho e, em curtas semanas de treinamento, estávamos fundidos em um grande e entusiasmado corpo. Criados em uma época de segurança, todos sentíamos a nostalgia do incomum, do grande perigo. E então a guerra tomou conta de nossas vidas como um desvario. Em uma chuva de flores, saímos de casa, inebriados com a atmosfera de rosas e sangue. A guerra, por certo, nos proporcionaria o imenso, o forte, o solene. Ela nos parecia uma ação máscula, uma divertida peleja de atiradores em prados floridos e orvalhados de sangue" (p. 7). E esse entusiasmo termina assim: "Tínhamos um número cada vez menor de homens para lhes opor resistência [aos inimigos], muitas vezes quase crianças, e também faltavam equipamentos e treinamentos" (p. 329). 



 Avaliação: BOM

(Setembro, 2021)


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