terça-feira, 13 de julho de 2021

Os quatro cavaleiros 

do Apocalipse (1916)

Vicente Blasco-Ibáñez (1867-1928) - ESPANHA

Tradução: Arsénio Mota     

São Paulo: Abril Cultural, 1985, 371 páginas



Muito mais que o enredo - uma família, os Desnoyers, envolvida nos primórdios da Primeira Guerra Mundial -, o que impressiona neste livro são as observações quase proféticas sobre o conflito em si e seus desdobramentos. Escrito no calor da luta, literalmente, e publicado com a conflagração ainda pela metade, o narrador anota, contrariando os prognósticos de que aquela seria a guerra para acabar com todas as guerras: "A Besta nunca morre. É a eterna companheira dos homens. Esconde-se, jorrando sangue, durante quarenta anos... sessenta... um século; mas reaparece" (p. 320). Pacifista, Marcel Desnoyers fugira da França em 1870, às primeiras notícias da guerra franco-prussiana, indo parar na Argentina. Lá, levou vida aventureira, imaginando enriquecer, sem o conseguir, até cair nas graças do latifundiário Julio Madariaga, que se tornara milionário apossando-se de terras indígenas para transformar em pasto para o gado, e, por sua fabulosa fortuna, era conhecido até mesmo em Buenos Aires. Madariaga tinha duas filhas, Luisa e Elena. Marcel Desnoyers, com o tempo, ganha a confiança de don Madariaga, a ponto de se casar com Luisa. A outra filha, Elena, foge com o alemão Karl Hartrott, que auxiliava na contabilidade, sendo mais tarde aceita de volta, mas nunca o casal conquista o coração do pai. Após a morte de don Madariaga, Karl e Elena vendem a parte deles dos negócios e mudam-se com os filhos para a Alemanha. Marcel prefere manter-se na fazenda, mas acaba mudando para Buenos Aires, cedendo aos pedidos de Chichí, a filha, e também aos desejos da mãe de estar mais perto do filho, também Julio, como o avô, que fora estudar na capital e levava vida devassa e perdulária. Em seguida, acaba manifestando vontade de regressar ao seu país natal e compra uma mansão na avenida Victor Hugo, em Paris, e um castelo na Champagne, às margens do rio Marne. Em Paris, Luisa visita igrejas, Marcel se enturma com a burguesia local, Chichí vive uma vida de futilidade com suas amigas adolescentes e Julio, num estúdio, finge ser pintor, na companhia de um parasita espanhol, Argensola. Então, explode a guerra. A família, inicialmente, se coloca numa posição de indiferença, afinal, não se considerava diretamente envolvida com o conflito, por se sentirem mais argentinos que franceses (mesmo Marcel). Mas, à medida em que os combates se tornam mais acirrados, todos, de alguma forma, sentem necessidade de participar - à exceção de Argensola, que passará todo o tempo usufruindo dos prazeres que a cidade ainda oferecerá, mesmo em tempos de exceção. Luisa se dilacera com a situação da irmã, cujo marido, filhos e parentes combatem pelo lado dos alemães, e também com sua própria situação, quando Julio se conscientiza da importância de entrar em combate, e quando Chichí se apaixona por René Lacour, que também parte para o front. No final, René regressa sem uma mão, sem um olho e manquejando de uma perna, mas vivo; enquanto, Julio morre em combate, assim como a maioria dos filhos e parentes de Elena... A guerra não tem ganhadores, só perdedores, parece assinalar o Autor... 



Entre aspas:


"A Humanidade habitua-se facilmente à infelicidade (...) desde que a infelicidade se prolongue" (pág. 314)

  


Avaliação: MUITO BOM

(Julho, 2021)


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