segunda-feira, 5 de julho de 2021

  50 contos e 3 novelas 

Sérgio Sant'Anna (1941-2020) BRASIL  

São Paulo: Companhia das Letras, 2007, 618 páginas


Esta coletânea reúne seis livros do Autor, compreendendo parte de sua produção publicada de 1973 a 2003, entre contos e novelas (que, na minha opinião, são apenas contos longos...). O que mais impressiona no Autor não é a diversidade de assuntos - porque, na verdade, ele é quase monotemático -, mas a originalidade com que os trata. Na verdade, o Autor inventa um quase gênero  - "sempre gostei de escrever minhas histórias como se elas se passassem num palco. Ou mesmo um teatro de marionetes" (p. 229) - que mistura, com maestria, ficção e ensaio - um ensaio ficcional ou uma ficção ensaística -, não à maneira do argentino Jorge Luís Borges (1899-1986), que se alimenta da própria ficção, mas à sua própria maneira, "que poderia fazer de uma reles aula uma obra de arte" (p. 308). Outra coisa que chama a atenção é a a excepcional qualidade de seus textos - que se mantêm em altíssimo nível, desde os primeiros trabalhos até os últimos -, algo raro na carreira de qualquer escritor, composta em geral por altos e baixos. O leitor percebe que o Autor - essa entidade abstrata, que se realiza ou se define como voz identificável - já está maduro nos contos de Notas de Manfredo Rangel, repórter, de 1973. O que ele faz, ao longo dos outros livros, é se depurar, não como alguns que transformam estilo em maneira ou fórmula, e passam a vida plagiando a si mesmos, mas como alguém que consegue ampliar, a cada livro, as suas descobertas. Por isso, não vou destacar um conto ou outro, pois fazer isso seria contraditar o que acabo de dizer - mas vou apenas chamar a atenção para um detalhe, que ilustra à perfeição o que quero iluminar. O Autor toma um tema pouco explorado na literatura brasileira, o futebol, e com ele constrói duas obras-primas da narrativa curta: "No último minuto", do primeiro livro, já referido, e "Na boca do túnel", de O concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro, de 1982. Apaixonado por futebol, o Autor compreendeu as possibilidades dramáticas do esporte, e ainda perpetrou dois outros contos maravilhosos, "Páginas sem glória", do livro homônimo, publicado em 2012, e "O torcedor e a bailarina", de O homem-mulher, de 2014 - que não estão, claro, nesta coletânea. O Autor é um desses clássicos que permanecerão como leitura prazerosa e instigante ao longo da História.



Avaliação: MUITO BOM

(Julho, 2021)


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