sexta-feira, 4 de junho de 2021

 Jacques, o fatalista (1796)

Denis Diderot (1713-1784) FRANÇA  

Tradução: Pedro Tamen     

Lisboa: Tinta da China, 2009, 295 páginas


Publicado postumamente, este livro, de alguma maneira, emula duas formas narrativas, uma contemporânea ao Autor, outra, muito mais antiga. A contemporânea é o maravilhoso romance A vida e as opiniões do cavalheiro Tristram Shandy (1760-1767), do irlandês Laurence Sterne (1713-1768), aqui neste espaço resenhado em 12 de setembro de 2015, ao qual o Autor faz referência e presta homenagem. O outro é As mil e uma noites, conjunto de histórias fabulosas, contos populares e folclóricos coletados em variadas fontes, indianas, persas e árabes. Para expor as aventuras de Jacques e de seu  amo, numa longa caminhada de lugar algum para nenhum lugar - montados em seus cavalos eles percorrem um espaço no interior da França, sem qualquer propósito -, o Autor usa do humor sterniano, que não hesita em se autoironizar. O narrador, na verdade, acompanha a viagem dos protagonistas, pontuando comentários sobre as várias histórias que vão sendo interpoladas, como nas Mil e uma noites... O livro começa com o Amo pedindo a Jacques, que acredita que tudo já está escrito "lá em cima", daí o seu epíteto, Fatalista, para contar a história de seus amores. Apenas pelo prazer de falar - ao qual esteve vetado durante sua infância, por viver numa casa onde a fala estava interditada -, Jacques a principia e retoma e retoma inúmeras vezes, sempre interrompido por algum fato banal ou alguma nova história, contada por ele, pelo Amo ou por algum novo personagem. Enquanto isso, são questionados a moral da Igreja, os costumes dos cidadãos, os conceitos de amizade e de amor...


Entre aspas:


"Não acredito nem desacredito [na vida que há-de-vir], não penso nisso. Gozo o melhor possível esta que nos foi concedida como adiantamento sobre a herança" (pág. 206)



Avaliação: BOM

(Junho, 2021)



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