domingo, 2 de maio de 2021

 A viagem de São Brandão (século X)

Benedeit (século XII) -  INGLATERRA*  

Tradução: José Domingos Morais   

Lisboa: Assírio & Alvim, 2005, 93 páginas


Trata-se de uma fábula que é, ao mesmo tempo, aventura e devoção. Existiu no século VI um monge irlandês de nome Brenian ou Brendam (traduzido como Brandão) que, junto com outros catorze monges, se aventurou pelo oceano desconhecido, rumo ao ocidente, em busca do Paraíso descrito na Terra. O texto que serve de base para esta tradução, do século XII, é apenas um dos inúmeros manuscritos que começaram a circular pela Europa  a partir do século X. Escrito em forma de poema narrativo, o texto é um poderoso repertório de imagens fantásticas e uma mostra do desejo dos europeus de tentar descobrir o que havia para além das terras conhecidas. São Brandão e seus discípulos, guiados pela fé em Deus, lançam-se ao mar e esbarram com seres míticos, como a ilha que na verdade era uma baleia; com uma imensa serpente marítima que é combatida e morta por outra serpente marítima; com grifos; e com pássaros falantes que são anjos. Eles descobrem o inferno - que, na verdade são dois, o quente e o gelado - e se deparam com Judas, eternamente amarrado a um rochedo, fustigado por demônios, sofrendo as penas dos dois infernos. E alcançam afinal do Paraíso, sendo que São Brandão foi o único ser humano que teve o privilégio de lá estar sem ter morrido. Após alguns anos, ele volta para casa, onde ainda vive por largo tempo até voltar ao Paraíso, agora em definitivo. As referências evocam desde óbvios textos bíblicos até tragédias gregas, imaginário oriental e circunstâncias contemporâneas.


* Inglaterra aqui é apenas uma referência geográfica. O país ainda não estava constituído e o manuscrito do livro em questão foi escrito em anglo-normando, uma língua latina muito mais próxima do francês do que do inglês. 


Avaliação: BOM

(Maio, 2021)



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