terça-feira, 20 de outubro de 2020

 A pirâmide de fogo (1895)

Arthur Machen (1863-1947) - PAÍS DE GALES 

Tradução: Filipe Guerra   

Barcarena: Editorial Presença, 2007, 167 páginas




Este livro, que faz parte da célebre coleção Biblioteca de Babel, dirigida por Jorge Luis Borges (1899-1986), reúne três contos longos, que possuem em comum o fascínio pelas lendas e mistérios envolvendo duendes e outras entidades das florestas galesas. Embora classificadas como histórias de horror - e há, digamos, um clima de estranhamento perpassando todas as narrativas -, elas são contadas como histórias de detetive: o leitor é apresentado ao caso, geralmente um assassinato ou um desaparecimento sem explicação, há uma  investigação "científica" e um desfecho de fundo "sobrenatural". Os casos são sempre expostos na primeira pessoa, mas, engenhosamente, de forma indireta, o que permite ao narrador intervir para esclarecer pontos obscuros. "A pirâmide de fogo" busca explicação para o sumiço de Anne Trevor, que, ao fim, descobrimos ter sido imolada pelo 'povo pequeno', que, após o ritual, que se repete de tempos em tempos, volta para "o mundo subterrâneo, para suas moradas sob a colina" (p. 62). "A história do sinete negro" mais ou menos repete o enredo de "A pirâmide de fogo" - o professor William Gregg desaparece, após publicar um importante tratado de etnologia, e dele são encontrados apenas vestígios ("o seu relógio e a respectiva corrente, o porta-moedas com três soberanos de ouro e algumas moedas de prata, e o anel que costumava usar" - p. 67). Aqui, acompanhamos o relato de sua secretária, Miss Lally, sobre o que ela acredita que realmente aconteceu - e que não exclui a possibilidade de o professor ter sido levado pelo 'povo pequeno' e não a de ter caído nas águas do rio... Finalmente, "A história do pó branco" conta o caso de Francis Leicester, narrado por sua irmã, Helen, um sujeito voltado para os livros, que, doente, é tratado pelo doutor Haberden. O remédio que ele receita é manipulado pelo farmacêutico do lugar, e Francis demonstra uma melhora extraordinária. Só que, com o passar do tempo, ocorre uma série de mudanças incompatíveis com sua personalidade. O doutor Haberden é convocado e estranha a poção que ele toma, o tal pó branco, envia uma amostra para um amigo analisar. O resultado é que a poção, por ter sido guardada por muito tempo, sofreu uma série de mutações químicas, se transformando em Vinum Sabbati, um líquido que, tomado, "a casa da vida humana desintegrava-se, e a trindade do homem se dissolvia, e o verme que não morre, aquele que dorme dentro de todos nós, era tornado coisa material e externa, revestida com o adorno da carne" (p. 165). Curiosamente, duas das três histórias são narradas por mulheres, o que não era muito comum na literatura dessa época...



AVALIAÇÃO: BOM

(Outubro, 2020)

 

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