terça-feira, 7 de julho de 2020

Terra alheia (1954)
Eduardo Caballero Calderón (1910-1993) COLÔMBIA        
Tradução: Jurema Finamour               
São Paulo: Brasiliense, 1968, 168  páginas






Este livro insere-se no movimento de intelectuais latino-americanos que buscou, a partir de meados do século XX, compreender e lutar contra as desigualdades sociais que marcam tragicamente a história deste subcontinente, lembrando, curiosamente, o chamado "regionalismo" brasileiro, misto de engajamento político e naturalismo estético. Neste romance, acompanhamos um período da vida de Siervo Joya, um sem-terra que, após cumprir o serviço militar, volta à sua região de origem, "numa nesguinha do Chicamocha, ao pé da Peña Morada, num lugar que se chama Vega del Pozo" (p. 16), na província colombiana de Boyacá. Siervo sonha em adquirir a pequena propriedade onde nasceu e cresceu. "Siervo jamais foi menino. (...) Quando pôde aguentar-se sobre as pernas, caminhava, despido da cintura para baixo, com um roupão sebento que lhe chegava ao umbigo e, nessa vestimenta, o mandavam cuidar das cabras no penhasco" (p. 58). Ingênuo, e ao mesmo tempo brutalizado, Siervo aceita sem discutir os percalços que a vida lhe impõe. Ao desembarcar, é encorajado a levar Tránsito para morar com ele - ela tinha sido mulher de um bandido morto pela polícia e desta relação resultara um bebê. A narrativa acompanha o cotidiano miserável destes seres animalizados, que são mantidos pelos patrões em uma submissão análoga à servidão medieval. Além da denúncia da situação absurda dos camponeses, mergulhados numa existência sem qualquer perspectiva de mudança, o narrador relata, como pano de fundo, a luta entre liberais e conservadores, cujas diferenças ideológicas não alcançam proporcionar diferenças significativas no universo da população pobre. Aliás, é numa destas contendas que Siervo assassinará um membro do partido conservador e terminará preso, sem julgamento, por vários anos. Quando foge, e tenta retomar a pequena lavoura mantida em sua ausência por Tránsito, estoura a guerra civil, cruel, bárbara, incompreensível. Findo o conflito, Siervo consegue pagar um sinal para a compra do "seu" pedaço de terra, que, liricamente denominou El Bosque. Mas o destino de Siervo já estava selado: morrerá antes mesmo de reassumir a plantação, assim como morreram seus filhos, pois assim é a história latino-americana, um presente sem futuro. Ou, como afirma a certa altura Siervo Joya: "Cachorra de vida! Vai-se todinha embora sem que a gente perceba e sem chegar a entender nunca o que se passa" (p. 99).



 Avaliação: BOM 


(Julho, 2020)

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