segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Os vendedores de cigarros 
da Praça Três Cruzes (1962) 
Joseph Ziemian (1922-1971) POLÔNIA  
Tradução: Jacob Lebensztayn   
São Paulo: Três Estrelas, 2019, 210 páginas





Este livro - espécie de reportagem-documentário-memória - é a prova cabal daquele axioma do escritor italiano Luigi Pirandello (1867-1936), que, no posfácio de seu romance mais conhecido, O falecido Mattia Pascal (1904), anotou: "Os absurdos da vida não precisam parecer verossímeis porque são verdadeiros. Ao contrário dos da arte que, para parecerem verdadeiros, precisam ser verossímeis". Tivesse o Autor querido transformar em romance a "epopéia" das "vinte e poucas crianças" (p. 203) judias que, passando-se por  arianas, vendiam cigarros na Praça Três Cruzes, em Varsóvia, durante a ocupação da Polônia pelos nazistas alemães, simplesmente teria fracassado, pois a história que conta nesse livro é absolutamente inverossímil. No entanto, o Autor limitou-se a expor, como documento, a história de um grupo de meninos e meninas que encontrou vagando pelas ruas de Varsóvia, sobreviventes da deportação para o campo de extermínio de Treblinka, em julho de 1942, e do levante do Gueto no início de 1943. No outono de 1943, o Autor, munido de um "documento de identidade concedido pelas autoridades alemãs, e um Ausweis, comprovante de trabalho", ambos falsos (p. 16), militava, clandestinamente, no Movimento de Resistência Judaico. que, além de funcionar como uma rede de combate armado contra os alemães, atuava para auxiliar os que estavam na clandestinidade, com roupas, dinheiro, alimentos e moradia. Sabendo que "sobreviver na selva da ocupação exigia energia e sagacidade" (p. 17), o Autor aproxima-se das crianças e pouco a pouco ganha a confiança delas, tornando-se uma espécie de protetor. Encontra-se tão fascinado com o que descobre, que passa a anotar o dia a dia desse incrível grupo que, burlando a odiosa milícia nazista e os entreguistas poloneses, consegue se manter vivo até o término da guerra - não todos, mas a grande maioria -, chegando mesmo a, heroicamente, engajar-se, apesar da pouca idade, no movimento de resistência conhecido como Levante de Varsóvia, em 1944.  O livro mostra, de maneira impressionante, a capacidade de resistência dos seres humanos, mesmo colocados em situações-limite - no caso, a ignominiosa barbárie nazista. No fundo, eles precisavam se salvar "para levar o nome da família adiante" (p. 100), como ensina o pai de um dos meninos. Livro imprescindível para os tempos hodiernos, onde grassa a estupidez, o cinismo, a hipocrisia, alimento dos novos extremismos que têm na absoluta falta de empatia o seu motor. 



Avaliação:
Não faz sentido avaliar esse livro, pois não se trata de uma questão estética, e sim de um documento humano, um documento sobre o período mais vergonhoso da história da Humanidade.  


(Novembro, 2019)

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