sexta-feira, 12 de abril de 2019

Serras azuis (1961)
Geraldo França de Lima (1914-2003BRASIL 
Rio de Janeiro: GRD, 1961, 353 páginas





Curioso esse romance. É uma narrativa novelesca (no sentido de telenovelas mesmo), sobre a vida de uma cidadezinha na província (no caso, Minas Gerais), escrito a partir de um ponto de vista... provinciano... E, no entanto, funciona! O tema principal é a disputa política entre os Passos-Pretos, comandados pelo coronel Eleodegário Souza, e os Tico-Ticos, comandados pelo médico Rivaldino Paleólogo, no finalzinho dos anos 1920, ou seja, na época do desmoronamento da República Velha. Como pano de fundo, as idas e vindas de uma relação impossível entre Gutemberg Roldão e Lígia das Graças Paiva, filhos de famílias arqui-inimigas, cujos antepassados - o Barão de Serras Azuis e o Licenciado Paiva, um republicano histórico - entraram em um conflito que gerou mortes, ódio e desejo de vingança. O entrecho favorece a representação de um mundo fechado, com seus tipos característicos, que não chegam se constituir como personagens, com fofocas, disse-me-disses, traições, assassinatos, enfim, a vida miúda de um lugarejo sem importância. O narrador escolhe o tom satírico para descrever o cotidiano patético, mas violento, do lugar, mas sempre com um olhar carinhoso de compreensão. Ou, como afirma Gutemberg Roldão: "Eu amo Serras Azuis. O pó imundo que às vezes sobe tão alto como um sonho inconsequente; esta lama pegajosa, estas velhas ruas tortas, com suas lajes assimétricas" (p. 353). O narrador não tem ilusões com relação à prática política nacional - a mesma desde sempre -, pois, vinda a revolução que poria fim aos velhos hábitos, o coronel Eleodegário, senhor absoluto da região durante a República Velha, mantém-se senhor absoluto da região nos novos tempos. O amor, no entanto, se salva. Lígia das Graças e Roldão superam a interdição, se casam, e, depois de viajarem por três anos pela Europa, voltam e se instalam na fazenda Garça Mimosa, que Roldão transformou numa idílica propriedade, com mão de obra imigrante italiana e japonesa. A certa altura, um personagem, Jovem Telegrafista, diz para Roldão que o que faltava em Serras Azuis era um romancista. "Não precisa de imaginação: basta apenas descrever o que vê" (p. 137). E é isso que se propõe o Autor. Essa, a força de seu livro. E também sua fraqueza.



Avaliação: BOM

(Abril, 2019)

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