quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

A hora dos ruminantes (1966)
José J. Veiga (1915-1999BRASIL 
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, 101 páginas







Trata-se de uma fábula - e, como tal, presa a algumas limitações do gênero. As personagens não se tornam individualidade, mas fornecem tipos para o desenvolvimento da narrativa. Portanto, é uma história que, muito mais que dramas humanos subjetivos, tenta descrever uma situação objetiva envolvendo uma coletividade. No caso, a pequena cidade fictícia de Manarairema, que, um belo dia, vê sua tranquilidade acabar, com a chegada de um grupo de forasteiros que se instalam nos arredores. Eles não se relacionam com ninguém do povoado e pouco a pouco seus estranhos hábitos - os quais, aliás, nunca chegamos a conhecer - vão transformando o que era curiosidade em medo e depois em pavor. Coisas estranhas ocorrem, como a invasão do lugar por cachorros e depois por bois. Tanto uns quanto outros, que chegam às centenas, se instalam em todos os cantos, forçando os moradores a alterar seus hábitos e a passar a viver mergulhados numa realidade completamente absurda. Alegoria sobre a opressão, sobre os regimes ditatoriais, sobre a impotência, sobre a covardia, e sobre, principalmente, como as pessoas acabam se acostumando a qualquer coisa, inclusive a uma situação absolutamente anômala - ou, como afirma o narrador, a certa altura: "desaprovar em silêncio é pouco menos do que aprovar" (p. 38). Uma boa reflexão para esses dias cada vez mais sombrios.



Avaliação: BOM

(Fevereiro, 2019)

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