quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Casa de pensão (1884)
Aluísio Azevedo (1857-1913- BRASIL 
Rio de Janeiro: Editora Três, 1973, 328 páginas




Amâncio da Silva Bastos e Vasconcelos, filho do comendador Manuel Pedro de Vasconcelos, "um dos mais estimados negociantes" (p. 285) de São Luís do Maranhão, chega ao Rio de Janeiro com vinte anos para estudar medicina. "(...) seu tipo franzino, meio imberbe, meio ingênuo (...) de uma vivacidade quase infantil (...)" escondia, segundo o narrador, "(...) um sonhador, um sensual, um louco. (...) Seu todo acanhado, fraco e modesto, não deixava transparecer a brutalidade daquele temperamento cálido e desensofrido" (p. 38). Amâncio, endinheirado, muito mais que se formar, pensa em desfrutar daquela cidade, que imaginava com "cortesãs cínicas e formosas, ceias pela madrugada, passeios pelo Jardim Botânico, em carros descobertos, o champanha ao lado, o cocheiro bêbado" (p. 53). Embora se veja como um sujeito esperto, é rapidamente engolfado pelo "bulício vertiginoso" do Rio de Janeiro. Muda-se para a casa de pensão de Madame Brizard, uma francesa casada, em segundas núpcias, com João Coqueiro, estudante de engenharia muito mais novo que ela. Madame Brizard tem três filhos do primeiro casamento: a mais velha, "a glória da família" (p. 92), unira-se a um ministro plenipotenciário; Léonie (Nini), "viúva histérica" (p. 97), e Cesar, então com doze anos. Na casa de  pensão, no centro, além de Madame Brizard, João Coqueiro, Nini, Cesar e os hóspedes, vive Amélia, irmã de Coqueiro, a Amélia dos camarões, como era conhecida à boca pequena. Coqueiro logo vê em Amâncio uma fonte de renda e passa a explorá-lo, convencendo a irmã a se deixar seduzir e tornar-se amante do estudante. Ao mesmo tempo, Amâncio tenta conquistar Hortênsia, mulher de Luís Campos, seu protetor. Com o tempo, Amâncio e Amélia, em uma outra casa, em Santa Teresa, onde o estudante se recolhera, junto com toda a família, para tratar de dores reumáticas, advindas após pegar bexiga, levam vida de casados - sob a vista grossa de Madame Brizard e Coqueirinho. Tornam a mudar, agora para Laranjeiras, mas já então Amâncio não sente mais por Amélia a paixão de antes... E começa a traçar um plano para abandoná-la... Mas Coqueirinho descobre, denuncia-o à polícia e Amâncio é levado a julgamento pela pretensa defloração de Amélia... Afinal, é julgado e absolvido, mas Coqueirinho, falido, inconformado e motivo de chacota, mata-o com vários tiros de revólver. O livro é às vezes prejudicado por um certo fatalismo, típico da época, e por imagens de extremo mau gosto - "As palavras borboleteavam-lhe da língua como o sangue de uma facada" (p. 150) ou "(...) aquela voz derramada pelos cantos da boca, que nem um caldo fino e seboso" (p. 153). Ou ainda por frases quase incompreensíveis pelo uso de termos técnicos - "Apesar de seus fracos estudos de medicina, fazia-lhe mal aos nervos aquela figura descarnada, que se exinania na impudência aterradora da morte: faziam-lhe mal aqueles membros despojados de vida, aquele esqueleto animado, que, na sua distanásia, parecia convidá-lo para um passeio ao cemitério" - uma frase que mais parece extraída de um poema de Augusto dos Anjos (1884-1914). E a cena final é um convite ao melodrama... Apesar de tudo, é um romance interessante para compreender a sociedade do Rio de Janeiro (e do Brasil) naquele fim de século XIX...


Avaliação: BOM


 (Dezembro, 2018)



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