quarta-feira, 24 de maio de 2017

Meu companheiro de estrada (1894-1923)
Maksim Górki (1868-1936) - Rússia 
São Paulo: Editora 34, 2014, 397 páginas
Tradução: Boris Schnaiderman 






Esta coletânea reúne 16 contos, que abarcam todas as fases da vida literária do Autor, constituindo-se, portanto, em um panorama bastante significativo da qualidade de sua obra. E o resultado é decepcionante. Na maior parte das narrativas, o Autor não consegue se livrar do depoimento pessoal, em textos na primeira pessoa eivados de pieguice e idealização, conformando quase uma espécie de escrita beatnik avant la lettre. Seus personagens são vagabundos, prostitutas, mendigos, aproveitadores, marginais retratados em clave romântica, enquanto o ambiente é descrito de forma naturalista. A mescla de romantismo e naturalismo produz uma visão populista, que, ao invés de empatia, objetivo primordial da literatura, provoca no máximo piedade. Há dois contos que fogem ao caráter exclusivo de documento - a que, a rigor, se reduzem essas narrativas -: a história de veneração transformada em crueldade em "Vinte e seis e uma", e a estranha relação entre fortes e fracos, com um pano de fundo acerca do anti-semitismo russo, que encontramos em "Caim e Artiom". No mais, há apenas uma sequência de bons contos que perdem a força pela intromissão desnecessária do narrador, como "Por desfastio", "Na estepe" e "Uma mulher". Há que destacar a belíssima lenda incrustrada em "A velha Izerguil", a sombra que Larra se tornou, vagando pelo mundo, um Ahaverus moldavo. Panfletárias e reducionistas, as reportagens literárias do Autor têm mais importância como testemunho de uma época de horror e sofrimento que como obra de arte. O que prova que boas intenções não redundam necessariamente em literatura de qualidade.

(Maio, 2017)




Avaliação: NÃO GOSTO 




Observações:

De novo, minha implicância com os tradutores: por que não vertem as medidas de distância? Aqui, nos vemos às voltas com verstas e sájens, que não dizem nada ao leitor brasileiro. 


Entre aspas:




"Há pessoas para as quais o mais precioso e melhor na vida é constituído por alguma doença do corpo ou do espírito" (p. 182)

"(...) as convicções de pessoas esclarecidas são tão conservadoras como os hábitos de pensar da massa analfabeta e supersticiosa" (p. 373)


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