sexta-feira, 2 de abril de 2021

 O gatuno (1626)

Francisco de Quevedo (1580-1645) -  ESPANHA  

Tradução: Eliane Zagury  

São Paulo: Global, 1985, 107 páginas



O título completo do original traduz o espírito deste romance: história da vida do gatuno chamado Dom Pablo, exemplo de vagabundos e espelho de velhacos. Narrado em primeira pessoa - que, eventualmente torna-se uma primeira pessoa estranha e deliciosamente onisciente -, é o depoimento de uma vida destinada a dar errado num mundo abissalmente separado entre a aristocracia rica e poderosa e o povo miserável - mas não submisso... E aqui é que reside o verdadeiro achado do livro: para não morrerem de fome e para tentar livrarem-se de um futuro inapelável de restrições sociais e econômicas têm-se que romper as regras de conduta. Dom Pablo nasce em Segóvia, de uma família "marginal": "sua mãe era feiticeira; seu pai, ladrão; seu tio, verdugo" (p. 89), como o define Dom Diego Coronel, de quem havia sido criado em sua infância e adolescência. Dom Pablo vai, aos poucos, se exercitando na arte de enganar, perfazendo uma verdadeira escola, em suas caminhadas de ida e volta entre Segóvia e Madri. Pelo caminho vai conhecendo clérigos viciados em jogo de cartas, poetas que fazem versos aos borbotões, falsos aristocratas falidos, bandos de facínoras, para, após ser desmascarado e preso na capital castelhana, partir para Sevilha e de lá para as Índias (América). Romance pícaro, portanto, escrito com um humor muitas vezes escatológico e ofensivo, o livro é um bom retrato - mas talvez não um fiel retrato - da Espanha na passagem do século XVI para o XVII.


Avaliação: BOM

(Abril, 2021)


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