domingo, 16 de fevereiro de 2020

Crônica na pedra (1971) 
Ismail Kadaré (1936) ALBÂNIA     
Tradução: Bernardo Joffily         
São Paulo: Cia das Letras, 2008, 275 páginas






Um menino, de cerca de sete anos, assiste, maravilhado, os transtornos provocados pela II Guerra Mundial em sua pequena cidade-natal. Primeiro, a ocupação pelos italianos, que, com eles, trazem um aeroporto, instalam um prostíbulo e impõem sua língua e moeda. Depois, os combates se acirram e a cidade troca de mãos várias vezes: os italianos são expulsos pelo bombardeio aliado, que mata várias cidadãos; chegam os gregos, que impõem sua língua e moeda, promovem algumas escaramuças e são expulsos; voltam os italianos, que, por sua vez, são acossados pelos guerrilheiros comunistas albaneses; por fim, chega o temido exército nazista alemão. "(...) a cidade, que já fora assinalada nos mapas do Império Romano, dos domínios normandos, de Bizâncio, do Império Turco, do Reino da Grécia e do da Itália, anoiteceu desta vez sob o Reich Alemão" (p. 261), lembra o menino. Narrado na primeira pessoa, acompanhamos essas mudanças pelos olhos do garoto, que, como todos na cidade, tenta levar uma vida normal, sob as piores condições. Com ele, conhecemos sua casa enorme, cujo porão torna-se por um período abrigo contra os bombardeios aéreos; sua família materna (principalmente as mulheres que vivem em torno de sua avó); sua família paterna, que mora um pouco distante, com um avô que passa todo o tempo lendo livros em turco e a tia que acaba aderindo à guerrilha; os habitantes notórios: a tia Pino, que, mesmo em condições adversas, mantém-se pronta para auxiliar na arrumação das noivas; o amigo Ilir; os amigos Issa e Javer, um pouco mais velhos, que aderem à guerrilha, sendo que Issa  termina enforcado; o cronista da cidade, a velha rica e reacionária, o delator, o homem que troca de nome a cada nova ocupação; e ainda o aeroporto, os aviões, o castelo... O menino enamora-se, descobre a literatura e com ela o  poder das palavras, indaga-se sobre os mistérios do mundo. A partir de um ponto de vista ao mesmo tempo ingênuo e mágico vivenciamos aqueles "tempos turbulentos", quando "(...) reinava a insegurança" (p. 89).


Avaliação: MUITO BOM

(Fevereiro, 2020)

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