quarta-feira, 8 de janeiro de 2020


Serafim Ponte Grande (1933) 
Oswald de Andrade (1890-1954)  BRASIL 
São Paulo: Globo, 2007, 230 páginas




Romance anárquico, construído em fragmentos, com uma linguagem extremamente poética e despedaçada, este livro é uma espécie de elogio e elegia ao descompromisso e ao hedonismo, mas com uma forte pitada de auto-imolação. Serafim é um membro da classe média brasileira, um burocrata entediado com seu trabalho medíocre, insatisfeito com seu casamento, e sonhando altas glórias como literato que não é - "um crítico teatral de sua própria tragédia", como se define à pág. 89. Até que, por meio de golpe financeiro - "Transformei em carta de crédito e pus a juros altos o dinheiro todo deixado pelos revolucionários [referência à Revolta de 1924] no quarto do Pombinho" [filho de Serafim Ponte Grande] (pág. 100) -, ele larga a família e embarca para o estrangeiro, disposto a recuperar o suposto tempo perdido. Daí para a frente, a narrativa se transforma no relato de uma série de aventuras sexuais inconsequentes pela Europa e Oriente Médio. O livro termina, na verdade, com a reentrada em cena de José Ramos Goes Pinto Calçudo, um personagem literalmente expulso do livro à pág. 127 ("- Diga-me uma coisa. Quem é neste livro o personagem principal? Eu ou você? / Pinto Calçudo como única resposta solta com toda a força um traque, pelo que é imediatamente posto para fora do romance" (pág.127). No epílogo, intitulado "Os antropófagos", Pinto Calçudo ressurge como comandante de um navio pirata que percorre o mundo numa eterna orgia... Romance que é um epígono da obra do Autor, às vezes resvala, com seu humor algo catatônico, para o mau gosto, mas que, ainda assim, mantém uma verve criativa e demolidora pouco comum na literatura brasileira.



Avaliação: BOM

(Janeiro, 2020)

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