quarta-feira, 2 de outubro de 2019

A floresta dos enforcados  (1922) 
Liviu Rebreanu (1885-1944) ROMÊNIA 
Tradução: Celestino Gomes e Vitor Buescu
São Paulo: Paulinas, 1969, 314 páginas

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Romance que tem como pano de fundo o ambiente da Primeira Guerra Mundial, mais especificamente a derrocada do Império Austro-Húngaro e o nascimento das aspirações nacionalistas. Ex-estudante universitário em Budapeste, o tenente Apostol Bologa foi convocado para o exército no começo da guerra, em 1914, e já ganhou três  condecorações por seu comportamento no campo de batalha. "A guerra arrebatou-me aos meus livros,  à Universidade onde eu tinha perdido o contato com a vida real. Mas fui vivamente despertado e apercebi-me que só a guerra era a verdadeira geradora de energias!" (p.17), pensa ele, inicialmente, orgulhoso e entusiasmado. Uma noiva, Marta Domsa, o espera em sua aldeia natal, Parva, na Romênia, e seus superiores o têm em alta conta como soldado e como cidadão. "Não afirmo que nosso Estado seja bom. (...) Mas, desde que ele existe, temos de cumprir nosso dever... Dê-me um Estado melhor, que eu aceito-o. Mas, caso contrário, cairemos na anarquia (...)" (p. 39), ele argumenta. A história começa em 1916 com o enforcamento de um alferes checo, Svoboda, por crime de traição - ele teria sido apanhado na tentativa de desertar. Bologa participou, com orgulho, do conselho de guerra que condenou o alferes à morte. No entanto, ao longo do livro Bologa vai, pouco a pouco, tomando consciência dos horrores da guerra e de sua participação ativa num confronto que é, antes de tudo, uma grande carnificina fratricida sem sentido. As coisas pioram radicalmente quando fica sabendo que será transferido para a Transilvânia e terá que enfrentar seus compatriotas, que se rebelaram e buscam a independência, com a ajuda da Império Russo e dos aliados França e Inglaterra. Bologa irá tentar desertar para o lado dos romenos, mas no momento em que tenta alcançar as linhas inimigas, é atingido por estilhaços de uma granada e recolhido a um hospital. Durante a convalescença  muda radicalmente de opinião a respeito da guerra: "A lei, o dever, o juramento, só valem até o momento em que não impõem um crime à consciência" (p. 114). Na volta à frente de batalha, conhece uma jovem húngara, Ilana, filha do coveiro de uma aldeia, que lhe dá novo alento. Resolve pôr fim ao noivado com Marta Domsa e se compromete em casar com Ilana. Passa a  emular o pensamento de seu pai, Iosif, herói do nacionalismo romeno, preso e morto pelo Estado austro-húngaro e a seguir seus ensinamentos:  "A criança deve compreender desde o princípio que a vida do homem só é preciosa quando ele segue um ideal" (p. 31). Sofre, então, uma crise mística, e, acusado por suas simpatias independentistas, é julgado e condenado à forca, por traição. O romance é muito bom na construção dos impasses de Bologa - no final, ele assume uma postura mística, quase repetindo o martírio de Jesus, ao entregar sua alma a uma causa que considera justa e intransponível.




Avaliação: MUITO BOM

(Outubro, 2019)

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