segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Fogo morto (1943)
José Lins do Rego (1901-1957) - BRASIL    
Rio de Janeiro: José Olympio, 1993, 245 páginas





Romance sobre a decadência da aristocracia açucareira do Nordeste, o Autor consegue uma síntese interessante ao retratar, paralelamente, o universo do terreiro, representado pelo mestre José Amaro, protagonista da primeira parte, e o universo da casa-grande, protagonizado pelo coronel Lula de Holanda, que domina a segunda parte. O mestre José Amaro, seleiro de profissão, que vive de favor nas terras do engenho Santa Fé, e o coronel Lula de Holanda, herdeiro das terras da mulher, vivenciam o amargor da impotência - um por ser miserável, outro, por inapetente. Ambos são arrogantes e egocêntricos, ambos penam com filhas solteironas e amalucadas por culpa da soberba deles mesmos, ambos encaminham suas vidas para a derrocada. Aliás, impressionantes os casos de loucura que povoam essa narrativa: a filha do mestre José Amaro e a cunhada do coronel Lula de Holanda, diagnosticadas como tais, mas também o capitão Vitorino Carneiro da Cunha e sua tragicômica mania de grandeza, que o leva a algumas quixotescas vitórias; o coronel Lula de Holanda, que no final da vida perde a razão; e o próprio mestre José Amaro, com uma teimosia que o leva ao suicídio. O Autor, na terceira e última parte, consegue, de maneira brilhante, juntar as pontas, unindo o impensável destino de um poderoso senhor de engenho ao de um pobre seleiro. Os personagens tornam-se carne e osso. Impossível deixar de lembrar do mestre José Amaro trabalhando à beira da estrada que leva ao Santa Fé; impossível deixar de ouvir o barulho do cabriolé carregando a família do coronel Lula de Holanda à igreja no Pilar; impossível não temer pela vida de cavaleiro andante do capitão Vitorino Carneiro da Cunha, que enfrenta as injustiças do mundo com a fé no seu punhal, mas que nem as crianças o respeitam, gritando o apelido de Papa-Rabo por onde passa; impossível não acompanhar as investidas do capitão Antonio Silvino, chefe do cangaço, herói para uns, bandido para outros. O livro traça um interessante quadro dos costumes nos primeiros anos da República Velha - a violência contra os negros escravizados ou libertos, os desmandos dos chefetes políticos, o cangaço como única forma de reação contra a opressão dos senhores de engenho, o machismo, o racismo...




(Janeiro, 2018)




Avaliação: MUITO BOM  



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