quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Mulheres sós (1949)
Cesare Pavese (1908-1950) - ITÁLIA  
Tradução: Julia Marchetti Polinesio 
São Paulo: Brasiliense, 1988, 127 páginas




O Autor assume uma voz feminina, a da costureira da alta moda, Clelia Oitana, para expor os impasses e desafios da nova mulher que surgia no pós-guerra. Clelia nasceu em Turim e, "começando do nada, saindo de um pátio que parecia um buraco" (p. 15), conseguiu tornar-se uma profissional respeitada em Roma. Agora, quinze anos mais tarde, volta à cidade-natal para instalar um filial da loja da qual é gerente, e vai conviver com a elite turinesa. Independente, financeira e afetivamente, ela acompanha com olhos críticos a vida vazia de aristocratas e burgueses, consumida em festas, passeios, confusões, tudo regado a muita bebida e conversa fútil, pessoas essas que, descobre aos poucos, "viviam como gatos, sempre prontos a se atacar" (p. 40). Neste meio destacam-se as "mulheres sós", que tentam se impor rompendo com o padrão esperado de casamento e filhos: Momina, a baronesa; a loura Mariella; Nene, a escultora; e a sensível e deslocada Rosetta Mola. A grande questão é como sobreviver mergulhadas em mundo machista e sem perspectivas. Clelia, mais velha, se pergunta "se valia a pena lutar tanto para chegar onde estava e não ser mais nada" e conclui: "eu me consolava pensando que minha vida não valia pelas coisas que tinha obtido ou pela posição que tinha alcançado, mas pelo fato de tê-las obtido e alcançado" (p. 80). Cada uma dessas "mulheres sós" abdicou de algo, mas a decisão radical tomou-a Rosetta Mola, que após uma tentativa frustrada, finalmente consegue se matar tomando veneno, porque "queria apenas ficar sozinha e fugir do barulho, e no seu ambiente não [era] possível se isolar" (p. 84). Narrativa desoladora de personagens que sentem "nojo de viver, nojo de tudo e de todos, do tempo que corre tanto, mas que nunca passa" (p. 61).




(Setembro, 2017)




Avaliação: MUITO BOM


Curiosidade:

É estranho que o Autor apresente uma personagem secundária, a escultora Nene, duas vezes, com descrições quase idênticas, mas com uma enorme diferença de idade:
à pág. 32 ela, "jovem e magra", "era uma estranha moça, de lábios grossos, que devia ter uns vinte e cinco anos. Tinha um sorriso bonito, de criança, mas seu jeito elétrico era desagradável".
à pág. 87 ela ressurge com "lábios grossos e franjinha, com seu modo atrevido de rir como uma criança. No entanto, devia ter trinta anos (...) Que moça estranha; parecia um pequeno réptil." 


Entre aspas:

"O homem é o único animal que melhora vestido". (pág. 13)

"Não se pode amar alguém mais do que a si mesmo. Ninguém consegue salvar quem não se salva sozinho". (pág. 22)

"Uma mulher que vale mais do que o homem que a toca, é uma infeliz". (pág. 37)


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