segunda-feira, 27 de junho de 2016

Judas Iscariotes e outras histórias (1901) 
Leonid Andreiév (1871-1919) - Rússia  
Tradução: Henrique Losinski Alves             
São Paulo: Claridade, 2004, 144 páginas


Este livro reúne seis contos que retratam bastante bem algumas das facetas exploradas pelo autor em sua obra.  "Era uma vez", "O grande slam" e "Vália" ancoram-se no realismo; "A máscara" - a mais fraca das narrativas - filia-se ao simbolismo decadentista; "O nada" e "Judas Iscariotes" são alegorias que discutem a natureza metafísica do bem e do mal. Aliás, é nesse campo que Andreiév se destaca*. Em "O nada" um homem "de certa importância" (p. 104) defronta-se, ao morrer, com um terrível dilema proposto por um cansado diabo: aceitar o fim definitivo - que significa o descanso, mas também o olvido - ou viver a vida eterna no inferno. "Judas Iscariotes" propõe uma releitura do papel daquele que passou para a história como o traidor: Judas teria tido o encargo mais pesado entre todos os discípulos, o de possibilitar a Jesus cumprir seu destino de mártir**. Por sua perfeita compreensão do universo infantil, "Vália" lembra seu contemporâneo, o magistral Anton Tchekov  (1860-1904); "Era uma vez" descreve a crueldade inerente ao ser humano; "O grande slam" relata, a partir da descrição de um grupo que se encontra com regularidade para jogar cartas, a solidão e o egoísmo.  


* Em outro de seus contos, "A conversão do diabo", acompanhamos a angústia e a desilusão de um diabo que tenta, em vão, seguir os mandamentos do cristianismo. In: Contos russos modernos. Rio de Janeiro: Bom Texto, 204, p. 215-246.
** O mesmo tema foi explorado, muito depois, em 1951, pelo escritor grego Nikos Kazantzakis (1883-1957) em A última tentação (São Paulo: Grua, 2015)


     


Avaliação: MUITO BOM

(Junho, 2016)


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