segunda-feira, 16 de maio de 2016

Marcha de Radetzky (1932)
Joseph Roth (1894-1939) - Ucrânia 
Tradução: Luís S. Krausz
São Paulo: Mundaréu, 2014, 423 páginas


Impressionante narrativa sobre a derrocada do Império Austro-Húngaro por meio da história do infeliz tenente Carl Joseph von Trotta. Descendente de um pobre camponês, o bisavô, sargento reformado, tinha sido vigia dos jardins de um castelo na Áustria; o avô, tenente do Exército, salvou a vida do kaiser Francisco José na Batalha de Solferino (1859), e, pelo feito, recebeu a patente de capitão e um título de nobreza, barão de Sipolje, nome da aldeia eslovena de onde provinha a família; o pai tornara-se comissário distrital na Morávia (atual República Tcheca). Aos sete anos, Carl Joseph estava em um colégio interno e aos dez já se encontrava engajado na academia de cadetes. O romance, na verdade uma costura de episódios destacados da curta vida do tenente, desenrola-se entre fins do século XIX e o começo da Primeira Guerra Mundial. Um painel da decadência não só de uma sociedade que emulava o Sacro Império Romano-Germânico, mas principalmente de uma mentalidade baseada em princípios que não resistiam aos novos tempos. Ou, como prediz um personagem, o conde de origem polonesa Chojnicki: "Ninguém mais acredita em Deus! A nova religião é o nacionalismo!" (p. 207). O esfacelamento do Império Austro-Húngaro resultou em fronteiras indefinidas e em ódios que explodiriam na Segunda Guerra Mundial. Entre as p. 356 e 381, um painel magistral dos rancores entre as várias etnias.
  
* Curiosidade: uma referência ao Brasil à p. 167. Os contrabandistas das fronteiras leste do Império Austro-Húngaro traficavam de tudo, inclusive pessoas vivas. "Eles despachavam desertores do exército russo para os Estados Unidos e jovens filhas de camponeses para o Brasil e para a Argentina".

Avaliação: OBRA-PRIMA  

(Maio, 2016)


Entre aspas

"Tudo que crescia precisava de muito tempo para crescer, e tudo que desaparecia precisava de muito tempo para ser esquecido" (p. 146)


"(...) os livros ruins contam muitas verdades do mundo real, só que as contam mal." (p. 333)





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