Contos clássicos de terror
Seleção e apresentação: Julio Jeha
Tradução: Vários
Tradução: Vários
São Paulo: Companhia das Letras, 2018, 406 páginas
Observações:
1) Eu tenho o maior respeito pela tradução e pelos tradutores. Sem eles, estaríamos fadados a conhecer uma parte ínfima da literatura universal. Por isso, o comentário que faço aqui, a respeito de um dos textos traduzidos, advém mais de uma observação de quem compreende a dificuldade do ofício, que propriamente uma crítica. Um dos contos, "A selvagem", do britânico Bram Stoker (1847-1912), tem, a meu ver, uma questão de difícil solução. Há um contraste, explorado no original, entre a fala do narrador e do casal de protagonistas, que usam o inglês britânico, e o personagem norte-americano. A tradutora, Sônia Moreira, tentou contrastar as diferenças em português usando termos regionais ("piá", por exemplo, na p.152, para se referir a criança) e impôs um ritmo mais jovial à narrativa. O resultado, no meu entender, é desastroso, pois fica estranhíssimo ler um texto do século XIX numa linguagem do século XXI e ainda eivado de termos próprios ao gauchês...
2) Incompreensível a falta de notas biobibliográficas. Alguém, que, ao fim da leitura, quiser saber algo a respeito dos autores e dos textos, nada encontra no volume...
Recolha de 19 contos, abarcando desde uma autora francesa da primeira metade do século XIX, George Sand (1804-1876), até um autor contemporâneo, o norte-americano Stephen King (1847), e incluindo cinco brasileiros, o que é incomum neste tipo de coletânea (Machado de Assis, Coelho Neto, João do Rio, Humberto de Campos e Lygia Fagundes Telles). Gênero de difícil consecução, no meu entendimento, a escolha do Organizador acaba apostando em alguns textos que, pela sua qualidade, encontram-se presentes na maioria das antologias dedicadas ao tema, como os excelentes "O barril de amontillado", do norte-americano Edgar Allan Poe (1909-1949), "A tortura pela esperança", do francês Villiers de L'Isle Adam (1828-1889) e "A mão do macaco", do inglês W.W. Jacobs (1863-1943). Também muito bons, e que aparecem como apostas do Organizador, os contos dos também sempre antologiáveis H.G. Wells (1866-1946), com "Pollock e o homem de Porroh", e Shirley Jackson (1916-1965), com o surpreendente "A loteria", o primeiro inglês, a segunda norte-americana. Dos outros autores, destacaria o escocês Robert Louis Stevenson (1850-1894), com "O ladrão de corpos", e o polonês-inglês Joseph Conrad (1857-1924), com "A fera", imprescindíveis, mesmo não estando no melhor de suas formas. Não consigo gostar, definitivamente, de H.P. Lovecraft (1890-1937) nem de Stephen King, leitura ingênua para adolescentes impressionáveis... Me detenho agora um pouco nos brasileiros. Machado de Assis (1836-1908), não me canso de dizer, um dos maiores autores da literatura universal, comparece com o excelente "A causa secreta". Os contos de Coelho Neto (1864-1934) e de Humberto de Campos (1886-1934) são fraquíssimos - o primeiro, inverossímil, com sua linguagem tortuosa, é cheio de contradições, enquanto o segundo é somente tolo. Quanto aos contos de João do Rio (1881-1921) e de Lygia Fagundes Telles (1923) são bons... se conhecidos isoladamente... É estranho, porque nunca havia me dado conta disso. "Emoções", de João do Rio, é uma paráfrase de "A causa secreta"... e lido assim, logo após o outro, a similitude salta aos olhos... Assim como o conto da maravilhosa Lygia Fagundes Telles, na minha opinião a melhor escritora brasileira, "Venha ver o por do sol" é uma emulação de "O barril de amontillado"...
1) Eu tenho o maior respeito pela tradução e pelos tradutores. Sem eles, estaríamos fadados a conhecer uma parte ínfima da literatura universal. Por isso, o comentário que faço aqui, a respeito de um dos textos traduzidos, advém mais de uma observação de quem compreende a dificuldade do ofício, que propriamente uma crítica. Um dos contos, "A selvagem", do britânico Bram Stoker (1847-1912), tem, a meu ver, uma questão de difícil solução. Há um contraste, explorado no original, entre a fala do narrador e do casal de protagonistas, que usam o inglês britânico, e o personagem norte-americano. A tradutora, Sônia Moreira, tentou contrastar as diferenças em português usando termos regionais ("piá", por exemplo, na p.152, para se referir a criança) e impôs um ritmo mais jovial à narrativa. O resultado, no meu entender, é desastroso, pois fica estranhíssimo ler um texto do século XIX numa linguagem do século XXI e ainda eivado de termos próprios ao gauchês...
2) Incompreensível a falta de notas biobibliográficas. Alguém, que, ao fim da leitura, quiser saber algo a respeito dos autores e dos textos, nada encontra no volume...
Avaliação: BOM
(Julho, 2019)
(Julho, 2019)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.