sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Sebastianópolis  (1916-1939)
Adelino Magalhães (1887-1969BRASIL 
Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, 1994, 272 páginas




Esta antologia reúne 17 contos (na verdade, algumas das narrativas fogem à conceituação do gênero): oito de Casos e impressões (de 1916), cinco de Visões, cenas e perfis (de 1918), dois de Tumulto da vida (de 1920), um de A hora veloz (de 1926) e um de Plenitude (de 1939). Irregular, o Autor possui, no entanto, uma grande qualidade: trafega por cenários socialmente distintos com uma segurança bastante incomum. Seus personagens são, em geral, pertencentes à classe de pequenos comerciantes ou proletários à beira da marginalidade, imigrantes portugueses, quase todos, e moradores no centro antigo do Rio de Janeiro. O Autor talvez seja, além disso, um dos primeiros a registrar literariamente, no Brasil, o "tumulto da vida" provocado pela "hora veloz", para usar dois de seus títulos. As multidões o atraem, seja num conto bem realizado como "A greve", ou em outros não tão bons, como "A rua" ou "Avante! Avante!". Mesmo quando não está tratando das massas, prefere os aglomerados, como em "Lembranças à Matilda", conversa entre miseráveis imigrantes saudosos da terra distante, ou "A festa familiar em casa do Teles", uma quase orgia numa residência familiar. O problema é que o Autor não consegue, na maior parte do tempo, se desvencilhar de cacoetes românticos e simbolistas, e num mesmo texto é capaz de escrever algo passadista como "E tudo estaria feerizado numa luz arroxeada! E correria um vinho leve, abstrato, como um sonho... e correria em taças cor da Lua!" (p. 57) misturado a algo modernista como "O missivista encomendado deslocalizou-se um pouco, numa inoculta emoção, ao vozerio das aclamações; depois deslizou os dedinhos claros sobre as pastinhas negras, espremeu-as num esforço de boa caligrafia, e franqueou: - Esta pena, com licença da palavra, é uma porqueira!" (p. 61). Irritantes também são suas tentativas de mimetizar a linguagem popular, ao invés de recriá-la - "Ó, Manuel, bai pedir o tintairo ao Antonico, se por cá não há..." (p. 59) - e o abusivo uso de advérbios de modo (terminados em mente). Em alguns momentos consegue anotar uma frase que bem poderia ser encontrada no melhor de Oswald de Andrade (1890-1954): "A manhã cai-lhe como uma toalha de banho sobre a deliciosa puerilidade do seu esfregar de olhos, enquanto ela sorri à múltipla alvorada dos gritinhos abaixo do cais; do desconcerto dos pregoeiros e do fonfonar dos automóveis" (p. 108). São bons contos como "Chico-Vovó" e "O presente", ambos tendo como tema as agruras da infância, e "A greve" e "Um prego! Mais outro prego!", ambos baseados em fatos históricos, muito bem recriados, a paralisação geral de 1917 e a tragédia provocada pela gripe espanhola em 1918, respectivamente. Mas, afinal, o grande mérito do Autor se reduz a uma questão extraliterária: ele é a prova cabal de que, mesmo antes da Semana de Arte Moderna de 1922, já existia "modernismo" no Brasil...




Avaliação: NÃO GOSTEI




 (Janeiro, 2019)

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