terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Tirano Banderas (1926)
Ramón del Valle-Inclán (1866-1936) - ESPANHA    
Tradução: Newton Freitas   
 Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1976, 244 páginas






Este livro é considerado a matriz de todos os romances sobre ditadores latino-americanos que viriam a ser escritos posteriormente - e que dariam clássicos como "O Senhor Presidente" (1946) do guatemalteco Miguel Ángel Astúrias (1899-1974), "
O recurso do método" (1974) do cubano Alejo Carpentier (1904-1980), "Eu, o supremo" (1974) do paraguaio Augusto Roa Bastos (1917-2005) e "O outono do patriarca" (1975) do colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014), entre muitos outros. Embora, na verdade, o primeiro livro sobre o tema tenha sido o extraordinário "Nostromo" (1904) do polonês que escrevia em inglês Joseph Conrad (1857-1924). Tirano Banderas, dom Santos Banderas, "indígena pelos quatro costados" (p. 217), é o presidente-ditador de uma republiqueta hispano-americana, a qual conduz com mão de ferro. A cadeia de Santa Mônica está lotada de rebeldes, executados e jogados ao mar com tanta frequência que os "safados tubarões já se fartaram de tanta carne revolucionária" (p. 159). Enquanto isso, cercado de áulicos, Tirano Banderas toma decisões, divertindo-se com o ingênuo "jogo da rãzinha". Cruel, dissimulado, traiçoeiro, dom Santos Bandera oprime o povo e amedronta seus aliados. No entanto, um dia, por motivo fútil, desencadeia uma insurreição bem sucedida, que o depõe. Ele cai morto a tiros e sua cabeça, "maldita por sentença, esteve três dias exposta num cadafalso com tiras amarelas na Praça de Armas" antes de o tronco, esquartejado, ser repartido "de fronteira a fronteira" (p. 241). Provavelmente - isso não está nas páginas do romance, mas nos anais da trágica história da América Latina - os vencedores daquela revolução se perpetuaram no poder, ditatorialmente, até serem derrubados por outros grupos, e assim sucessivamente... O grande problema do livro é que todos os personagens, sem uma única exceção, são meras caricaturas - e aqui encontra-se meu principal senão ao gênero sátira. Elas provocam o riso, pelo exagero das tintas, mas não a transformação, que a tragédia consegue ao humanizar - ou seja, ao trazer para perto de nós - os personagens, por mais horríveis e deploráveis que eles sejam, Outra questão: para não localizar a sua ação em nenhum país específico e para universalizar o patético caudilhismo latino-americano, o Autor mistura paisagens, sotaques, culturas e povos - mas, ao invés de conseguir fabular um novo e genérico país, apenas torna o espaço irreconhecível, e portanto pouco permeável ao leitor.



(Fevereiro, 2018)



Avaliação: NÃO GOSTEI  

Curiosidades: 


1) O Brasil aparece à página 205, numa reunião de diplomatas. "O ministro do Brasil tinha calçado as luvas amarelas de Dom Celes!" e ainda à página seguinte: "O ministro do Brasil, silhueta redonda azevichada, expressão asiática entre mandarim e bonzo, tomou a palavra etc"

2) É estranho que o Autor denomine um diplomata japonês como Tu-Lag-Thi...


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