sexta-feira, 27 de outubro de 2017

O Exército de Cavalaria  (1926)
Isaac Bábel (1894-1940) - RÚSSIA
Tradução: Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade
São Paulo: CosacNaify, 2015, 247 páginas


Este livro reúne 36 textos com temática comum, a guerra levada a cabo pelos soviéticos contra os poloneses, entre 1919 e 1921. Não são propriamente contos, mas uma espécie híbrida de crônicas ficcionais, nas quais cenas de extrema crueldade são descritas com uma linguagem encharcada de poesia, provocando-nos um interessantíssimo estranhamento. Aliado a isso, o narrador evoca personagens que surgem numa história como protagonistas e ressurgem em outras como coadjuvantes, criando assim uma teia de enredos e situações que dinamizam a coletânea, dando-lhe quase uma feição de romance. Destaque para o olhar do narrador para a vida miserável dos judeus da Ucrânia, onde decorre boa parte das narrativas, e para alguns textos específicos, como "Pan Apolek", "Guedáli", "Kónkin", "O comandante de esquadrão Trúnov" e "Os Ivans". Enfim, o que torna as narrativas grandiosas é a linguagem expressionista. Três exemplos: "Uma vegetação verde pespontava a terra com bordeados caprichosos" (p. 77); "A noite nos consolava das nossas tristezas, uma brisa leve nos envolvia como uma saia materna" (p. 119);  "A tarde alçou voo para o céu, como um bando de pássaros, e a escuridão cingiu-me com sua coroa úmida" (p. 185).

(Outubro, 2017)



Avaliação: BOM  


Curiosidade:

Aqui, repete-se o velho problema de os tradutores não verterem para o sistema métrico as medidas nas quais foram consignados os originais. Versta, medida russa que equivale a pouco mais de um quilômetro, é mantido como versta, o que ocasiona confusão e perda de clareza de várias passagens. Estranhamente, nos dois último contos, "Argamak" e "O beijo", os tradutores usam quilômetros - "Tivemos que percorrer de sessenta a oitenta quilômetros por dia" (p. 197); "Depois de uma marcha sem descanso, de cem quilômetros..." (p. 207) - e até mesmo léguas - "nem mesmo me ocorreu que estávamos a dez léguas de Budiátitchi" (p. 208)... Aliás, légua é a denominação para medir distâncias usada em Portugal e trazida para o Brasil, que tem as mais variadas conversões, podendo significar de 2 a 7 quilômetros... 




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