Mar de histórias - 2º volume
Aurélio Buarque de Holanda Ferreira e Paulo Rónai (org)
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1979, 253 páginas
O segundo volume desta "antologia do conto mundial" reúne 22 textos de autores do "fim da Idade Média ao Romantismo". Não era, talvez, intenção dos organizadores, mas o livro acabou se tornando um vasto repositório de composições misóginas, onde a mulher surge como um ser pérfido, traiçoeiro, vulgar, inconstante, estúpido e injusto, uma perfeita representação do mal. Mesmo nas narrativas em que tenta-se pintar um retrato favorável da mulher, ela tem que ser testada - em sua fidelidade ou constância, por exemplo -, resultando em situações as mais absurdas, como no "Conto V da Terceira Parte dos Contos e Histórias de Proveito e Exemplo", do português Gonçalo Fernandes Trancoso (c. 1520-1596), um dos mais cruéis e abomináveis que li em toda a minha vida. Mesmo uma boa narrativa como "Rip van Winkle", do norte-americano Washington Irving (1783-1859), não consegue fugir a esse lugar comum. Alguém pode alegar, claro, que essa percepção deve-se à perspectiva da época, mas o problema é que os organizadores, em momento algum, contextualizam essa visão - ao contrário, parecem até mesmo compartilhar dela. As exceções ficam por conta de "Rinconete e Cortadillo", do espanhol Miguel de Cervantes (1547-1616), e do excelente "O terremoto do Chile", do alemão Heinrich von Kleist (1777-1811), que mostra a insanidade que se apossa dos seres humanos quando tomados pela cegueira da fé religiosa.
Avaliação: NÃO GOSTO
(Junho, 2016)
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