Três contos (1877)
Gustave Flaubert (1821-1880) - França
Tradução: Milton Hatoum e Samuel Titan Jr
São Paulo: CosacNaify, 2011, 151 páginas
São três contos, escritos entre 1875 e 1876, com diferentes resultados. "A Legenda de São Julião Hospitaleiro" compõe, a partir de um vitral encontrável na Catedral de Rouen, cidade onde nasceu o autor, a vida trágica deste santo medieval, que para cumprir seu destino de mártir teve que passar por várias provações, uma delas a de assassinar os próprios pais. "Herodíade" representa uma cena dos tempos bíblicos, aquela na qual Salomé, após dançar para Herodes Antipas, exige a cabeça de São João Batista como troféu. Se nestas duas narrativas são recriados episódios históricos, é em "Um coração simples"* que reconhecemos a genialidade presente em Madame Bovary (1857) e em Educação sentimental (1869): trata-se do melhor conto escrito em todos os tempos. Em 38 páginas, o autor traça a biografia de Felicité, dedicada empregada de uma burguesa empobrecida da província, a Sra. Aubain. Sua vida cinzenta, desprovida de felicidade - apesar de seu nome - é povoada de pequenas alegrias que, como fogos-fátuos, logo se dissipam: o sobrinho Victor, que morre em consequência de uma tentativa de curá-lo da febre amarela; a menina Virginie, que fenece ainda adolescente; o papagaio herdado da família Larsonnière. Ao fim, a protagonista morre como viveu: discretamente. Mais que um coração simples, uma vida simples. Singular, magnífico, perfeito.
* Vale a pena comparar o enredo de "Um coração simples" com o romance do brasileiro Autran Dourado (1926-2012), intitulado "Uma vida em segredo" (1964).
Avaliação: MUITO BOM
(Julho, 2016)
Entre aspas
"A verdade é que ninguém pode ferir-nos, salvo aqueles que amamos". (p. 159)
"Feliz o que não insiste em ter razão, porque ninguém a tem ou todos a têm". (p. 205)
"Feliz o que não insiste em ter razão, porque ninguém a tem ou todos a têm". (p. 205)
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