quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

O tempo e o vento
(Parte I - O Continente: Volume 2) (1949) 
Erico Veríssimo (1905-1975)  BRASIL 
São Paulo: Companhia das Letras, 2005, 432 páginas





Monumental saga sobre a história política do Brasil (sobre sua formação geográfica, econômica, social, política, imaginária) composta por três partes divididas por sua vez em sete volumes. Este segundo volume da Parte I descreve a história dos Terra Cambará (e, por consequência, a transformação de Santa Fé, do Rio Grande do Sul, do Brasil, enfim) ao longo da segunda metade do século XIX, curiosamente, um período mais calmo que o relatado no volume anterior. "A teiniaguá" narra a história do casamento infeliz entre Bolívar, filho de Bibiana Terra e do capitão Rodrigo Cambará, com Luzia Silva, neta adotada de Aguinaldo Silva, um pernambucano que aportou em Santa Fé, de origem incerta, e que acumulou enorme fortuna, consubstanciada no Sobrado, construído sobre lotes usurpados de Pedro Terra, pai de Bibiana. Após o casamento, realizado como uma espécie de vingança de Bibiana contra Aguinaldo Silva, os Terra Cambará passam a ocupar o Sobrado. Este capítulo, narrado em terceira pessoa, mas tendo como ponto de vista privilegiado o olhar do dr. Carl Winter, médico alemão que acaba dando os costados em Santa Fé, e que por lá se enraiza, mostra como Luzia, culta, inteligente, moderna, vai aos poucos perdendo a razão, enfurnada num lugar atrasado, casada com um sujeito limitado intelectualmente, e tendo que conviver com o ódio explícito da sogra. "A guerra" ecoa os anos da Guerra do Paraguai, o primeiro conflito que não envolve diretamente a linhagem dos Terra Cambará (apesar de tornar coxo Florêncio, primo de Bolívar), quando acompanhamos o desenvolvimento de Licurgo, filho de Bolívar, morto ao tentar romper uma quarentena em que estavam confinados, ele e a mulher, por conta do cólera que grassava na Província. Licurgo, com a mãe ausente e com o beneplácito da avó, passa a maior parte do tempo na fazenda Angicos, cuidando de gado e ouvindo as conversas dos peões. "Ismália Caré" revela o aumento da rivalidade entre as famílias Terra Cambará e Amaral, fundadores de Santa Fé, colocando de um lado Licurgo, republicano e abolicionista, contra os Amarais, monarquistas e escravocratas. Licurgo está prestes a se casar com a prima Alice, filha de Florêncio, enquanto alimenta sua paixão proibida pela amante, Ismália Caré, filha de empregados da fazenda. Esses capítulos são intercalados por outros três capítulos intitulados "O Sobrado", que servem de contraponto à história que vai sendo desdobrada. No final deste volume, cai o cerco ao sobrado dos Terra Cambará pelos Amarais. O impressionante dessa saga  é a capacidade do Autor de contar a história do Brasil (e do Rio Grande do Sul) sem, uma única vez, sair dos limites da pequena cidade de Santa Fé... Um feito e tanto!


Avaliação: MUITO BOM

(Janeiro, 2020)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.