segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Velha França (1933)
Roger Martin Du Gard (1881-1958) - FRANÇA 
Tradução: Alexandre Cabral 
Rio de Janeiro: Portugália Brasil, s/d, 84 páginas




A narrativa acompanha um dia na vida do carteiro Paul Joigneau que, junto com seus dois cachorros, Pic e Mirabole, percorre as poucas ruas da aldeia de Maupeyrou. Estamos no Entre Guerras e o interior da França vive um momento de paz, apesar das dificuldades econômicas. Joigneau  serve de ligação entre os mais diversos habitantes, de quem conhece a vida pública e também os segredos, já que não hesita em bisbilhotar a correspondência, antes de distribuí-la. Em um texto evocativo, ficamos, em poucas páginas, íntimos de inúmeros personagens: o idealista professor Ennberg e sua irmã; os esquerdistas que se congregam no Café Tabac, dos Bosse; os direitistas reunidos em torno do senhor Ferdinand, cabeleireiro-perfumista; a senhora Loutre, mulher do hortelão, que acreditando que o marido havia morrido na guerra, colocou para dentro de casa um "fritz" (alemão), prisioneiro de guerra, e agora vive em perfeita harmonia com os dois; o velho casal de refugiados belgas, à espera da morte; os três pensionistas de guerra, Pascalon, Tulle e Hostin; as três viúvas da guerra, senhoras Sicagne, Gueudet e Touche; os Pâqueux, irmão e irmã, acusados de manter o pai preso em condições subumanas; o presidente da Câmara, Arnaldon, e sua filha solteirona; o decadente aristocrata Des Navières; o angustiado padre Verne... Uma galeria impressionante de personagens, "uma raça desconfiada, invejosa, calculista, que a cupidez destrói como se fosse um cancro" (p. 26). Apesar desse julgamento terrível, o narrador  devota a todos um olhar de compreensão, pois sabe, como o padre Verne, que "vivem como se eles próprios fossem eternos, sem entrever o abismo que os espera ao cabo da caminhada, nem como esta caminhada para o abismo será breve" (p. 80).


(Setembro, 2017)



Avaliação: BOM

Entre aspas:

"Há pensamentos que é preciso afastar sistematicamente, se se procura conservar intacta a coragem". (pág. 83)

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