quinta-feira, 27 de julho de 2017

O bebedor de vinho de palmeira (1952)
Amos Tutuola (1920-1997) NIGÉRIA
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, s/d, 142 páginas
Tradução:  Eliane Fontenelle    





Escrito em inglês, esse romance mescla o non sense de "Alice no País das Maravilhas" com procedimentos da literatura fantástica, resultando em uma originalíssima fábula africana, assentada na recriação ousada da oralidade. O protagonista, primogênito de oito filhos de um homem de posses, desde os dez anos era viciado em vinho de palmeira. Por isso, seu pai lhe presenteou com uma fazenda que possuía 560 mil palmeiras e um vinhateiro que lhe preparava 225 barris da bebida cotidianamente (p. 8). Um dia, o vinhateiro, de nome Baity (p. 107), morre, e, desolado, pois só ele sabia preparar a bebida a seu gosto, o protagonista resolve trazê-lo de volta da Cidade dos Mortos. Para isso, empreende uma longa viagem, recheada de aventuras, as mais estranhas possíveis, como o encontro com o "Crânio", um esqueleto que alugava partes do corpo para se tornar um homem bonito e elegante, das mãos de quem aliás resgata a filha de um chefe tribal, com quem se casa. Juntos, o casal empreende a difícil missão de encontrar Baity, tendo ainda a ajuda dos "jujus" do protagonista, que a tradução não indica em momento algum do que se trata, mas parece ser uma mistura de amuleto mágico e varinha de condão. Após enfrentar as mais perversas e malévolas criaturas - vivas e mortas, corpos e espíritos, e algumas que não são nem uma coisa nem outra -, o casal localiza o vinhateiro na Cidade dos Mortos e ganha dele um ovo mágico, que será muito útil posteriormente. Eles voltam à aldeia natal do protagonista, e, depois de novas peripécias, vivem felizes. É interessante notar a ausência de apreciação moral na narrativa: para alcançar seus objetivos, o protagonista não hesita em matar e roubar - assim como as criaturas que o circundam, como por exemplo, o Céu, que, por uma causa de uma questiúncula com a Terra - a posse de um minúsculo rato - para de chover, arrasa as plantações, provoca fome e enorme mortandade. É também curioso o humor do narrador. Na cidade das "pessoas confusas", ele é nomeado juiz, a quem são submetidas duas causas (p. 126 a 130). Como ele não consegue chegar a uma conclusão, pede: "(...) eu ficaria muito agradecido se alguém que lesse esse livro julgasse um ou ambos os casos e mandasse a sua decisão para mim o mais rápido possível, porque os habitantes da 'cidade confusa' querem que eu vá urgentemente para lá com uma solução" (p. 131). Diferente e inusitado, trágico e divertido - uma experiência prazerosa de leitura!      

(Julho, 2017)


Avaliação:  MUITO BOM 





Observação:

 
Além de terminar a leitura sem saber o que afinal são os tais "jujus" que o protagonista usa para se safar dos perigos, é irritante - mas infelizmente não se trata de uma características apenas deste livro - a não tradução de medidas para o sistema métrico (para mim, algo incompreensível). Alguns exemplos:

(...) cresceu até a altura de 3 polegadas" (p. 34)
Media um quarto de milha de altura e seis pés de diâmetro (p. 46)
(...) um grande guarda-chuva cor de creme, medindo 3 pés de altura (p. 48)
Tinham cerca de dois pés de comprimento (p. 59)







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