O duelo (1891)
Anton Tchékov (1860-1904) - Rússia
Tradução: Klara Gourianóva
São Paulo: Amarilys, 2011, 176 páginas
Um dos raros textos longos do autor, O duelo é a história de uma iluminação. Ivan Andréitch Laiévski é um jovem de 28 anos, funcionário negligente do Ministério das Finanças lotado na região do Cáucaso, sul da Rússia, para onde fugiu com Nadejda Fiódorovna, uma mulher casada que deixou o marido em Petersburgo. Dois anos depois de instalarem-se naquela cidadezinha quente e abafada, às margens do Mar Negro, despida de quaisquer atrativos, ambos estão entediados. Laiévski resolve então abandonar Nadejda, mas cheio de dívidas, procura o médico Samóilenko, seu amigo, conta seu dilema e pede dinheiro emprestado para voltar à "civilização". Acaba, por razões fúteis, se desentendendo com o zoólogo von Koren, que, por odiá-lo, desafia-o a um duelo. Na longa noite que antecede o momento em que terá de enfrentar com pistolas o seu adversário, Laiévski compreende a futilidade de sua existência - "O que há em minha vida que não seja depravação?" (p. 145) - e decide se deixar matar. Na última hora, no entanto, é salvo do tiro certeiro de von Koren pelos gritos de pavor do diácono Pobédov, que assistia a tudo escondido. Laiévski torna-se outro homem: perdoa as traições de Nadejda, assume seu trabalho com afinco, muda-se para uma casa modesta e, para sanar suas débitos, passa a viver "pior que um mendigo" (p. 171). Talvez o resumo de tudo seja a cena final em que, vendo von Koren se afastar de barco em direção a Moscou e Petersburgo, Laiévski observa: "É assim na vida... À procura da verdade os homens dão dois passos para a frente e um para trás. Sofrimentos, erros e o tédio da vida os jogam para trás, mas a sede pela verdade e a força de vontade os levam para a frente e mais para a frente. E quem sabe? Talvez eles cheguem até a verdade..." (p. 175).
Avaliação: MUITO BOM
(Outubro, 2016)
Entre aspas
"As massas sempre tendem ao antropomorfismo na religião e na moral e gostam mais daqueles ídolos que têm as mesmas fraquezas que elas". (p.48)
"(...) a incerteza da situação causa apatia nas pessoas". (p. 53)
"Deus é um só para todos, as pessoas é que são diferentes. (...) Só os ricos julgam qual Deus é seu e qual é o meu, mas para o pobre - tanto faz." (p. 167-168)
"(...) tal é o destino humano: se não se erra no principal, erra-se nos detalhes. Ninguém é dono da verdade". (p. 172)
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