quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

As surpreendentes aventuras
 do Barão de Munchausen (1785-1793) 
Rudolf Erich Raspe (1736-1794) -  INGLATERRA 
Tradução: Claudio Alves Marcondes     
São Paulo: CosacNaify, 2014, 208 páginas




Este livro traz à tona duas importantes reflexões. A primeira é a de que a boa literatura se desgarra facilmente das imposições do mercado editorial. Estas aventuras, concebidas e destinadas ao público juvenil (pelas editoras), com certeza são muito mais aproveitadas pelos adultos, que se divertem com as irreverentes narrativas absurdas contadas por um grande mistificador, na primeira parte... E aqui vem a segunda reflexão: quase sempre o sucesso não se repete quando se tenta recriá-lo. A segunda parte deste livro, que, em geral, não é publicada junto com a primeira, não guarda quase nada do original, porque o que era frescor e inventividade torna-se artifício e maneirismo. Na primeira parte, temos uma série de episódios "vividos" pelo Barão de Munchausen, que se passam em lugares os mais distantes da Europa, sempre inacreditáveis. "Sei bem que tudo isso deve parecer muito estranho. Porém, se a sombra de uma dúvida restar no espírito de alguém, a solução é simples: que ele próprio faça essa viagem, pois vai então constatar o quão fiel à verdade sou como viajante" (p. 91), desafia
-nos o Barão. Assim, suas absurdas aventuras tornam-se apenas divertidas e ingênuas mentiras, contadas para despertar a nossa imaginação. O lobo que puxa trenó, os cinquenta pares de patos atingidos com um único tiro, o casaco de pele que fica louco, as duas viagens à Lua, a visita ao centro do mundo, etc, nos carregam a mundos impossíveis. Na segunda parte, entretanto, o que era imaginação torna-se maçante tentativa de ironizar a trágica colonização da África pelos europeus. Não consegue nem uma coisa, nem outra...


Avaliação: MUITO BOM

(Dezembro, 2019)



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