domingo, 1 de setembro de 2019

Memórias de um oficial da infantaria (1930) 
Siegfried Sassoon (1886-1967) - INGLATERRA  
Tradução de Luís Reyes Gil    
São Paulo: Mundaréu, 2014, 328 páginas






Romance autobiográfico, narra a história de George Sherston, um jovem aristocrata inglês que, entusiasmado, alista-se como voluntário nas forças expedicionárias britânicas logo após declarada a guerra contra a aliança Alemanha-Império Austro-Húngaro, em agosto de 1915, "'por três anos ou pela duração'" (p. 148), com o o objetivo explícito de ser "apenas uma tentativa de mostrar o efeito que ela [a guerra] teve num homem jovem, de mente um pouco solitária" (p. 29). O livro pouco retrata a vida no front - embora haja algumas cenas transcorridas durante as batalhas de Somme e de Arras, em 1916 e 1917, respectivamente -, porém o que importa ao narrador não é expor as cruezas da vida nas trincheiras, mas revelar uma outra luta, esta, interior, talvez até mais complexa, que é sua transformação, pouco a pouco, de um dedicado oficial, seguro de estar do lado certo naquela guerra, para um opositor ferrenho e um denunciador das atrocidades provocadas pelo jogo hipócrita e injusto dos detentores de poder. Sherston passa mais tempo em hospitais de recuperação que nos campos de batalha - ele é ferido na garganta na batalha de Somme, e, sete meses depois, uma bala atravessa seu omoplata, na batalha de Arras, voltando, em ambas as ocasiões, para se tratar em hospitais na Inglaterra. E é nestes momentos de convalescença que começa a refletir sobre o que representa o conflito e a quem ele interessa. Se no início ainda descreve a guerra liricamente, como "ela poderia ser vislumbrada pela mente de algum poeta épico daqui a cem anos" (p. 124), mais tarde descobre, frustrado, que ela estava "sendo desnecessariamente prolongada por aqueles que tinham o poder de decretar seu fim" (p. 299). E se pergunta: "Será que a guerra precisaria continuar para que os coronéis pudessem se tornar brigadeiros e os brigadeiros obter divisões, enquanto fornecedores enriqueciam e as pessoas em alta posições comiam e bebiam muito bem e espalhavam boatos sobre informações oficiais e organizavam entretenimento para os feridos?" (p. 306). Por fim, resolve escrever uma carta em que evidencia o engano a que todos estavam sendo submetidos: "Acredito que essa guerra, na qual ingressei como uma guerra de defesa e libertação, tornou-se agora uma guerra de agressão e conquista" (p. 11). Por conta dessa sua posição, considerada antipatriótica e traidora, é internado num hospital psiquiátrico - alternativa encontrada ao risco de enfrentar a prisão ou até mesmo a corte marcial. Romance humanista, e, por consequência, pacifista, o livro tem como ponto alto a absoluta sinceridade do protagonista, que não tem pejo de mostrar-se inseguro e contraditório e também de ressaltar que, por ser membro da elite britânica, tinha privilégios vetados aos soldados de famílias pobres, que simplesmente eram transportados para o front para serem massacrados. 




Entre aspas :

"(...) a vida, para a maior parte da população, é uma luta antipática contra ocorrências injustas, culminando em um funeral barato". (pág. 211)

"Em tempos de guerra, a palavra 'patriotismo' é apenas sinônimo de supressão da verdade". (pág. 273)



Avaliação: MUITO BOM


(Setembro, 2019)

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