quarta-feira, 20 de março de 2019

Corpo vivo (1962)
Adonias Filho (1915-1990BRASIL 
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1962, 136 páginas


Pistoleiros invadem uma fazenda, provocam uma chacina - matam o homem, a mulher e três filhas -, mas deixam escapar um menino, o caçula, que, escondido na mata, a tudo assiste. Quando, mais tarde, percebem o erro, voltam ao local, buscam o menino, e, sem encontrá-lo, incendeiam a casa. O menino é achado por seu padrinho e levado para um tio distante, um índio, que, no meio da selva, o adestrará para, quando crescer, vingar o sangue derramado. Essa poderia ser a sinopse de um faroeste dos anos 1960, mas é o resumo desse romance. Até mesmo o nome do protagonista, Cajango, poderia ser o de um personagem deste gênero de filme norte-americano. A única diferença é o cenário, a zona do cacau no sul da Bahia. Esta é uma narrativa falhada. Não só o enredo constitui um lugar-comum, a estrutura da história contém erros absurdos. Chamarei a atenção de dois apenas, entre outros: na primeira parte do livro, o Autor alterna a narrativa em terceira e primeira pessoas - e, neste caso, ele dá voz a cinco diferentes personagens. E, entretanto, todos, rigorosamente, usam o mesmo linguajar, os mesmos maneirismos, a mesma lógica, sem nada que possa caracterizá-los em suas singularidades. E, curiosamente, esse problema teria sido resolvido com a simples mudança de ponto de vista, ou seja, o livro inteiro poderia ter sido narrado na terceira pessoa, sem qualquer prejuízo para o desenvolvimento da história. E os personagens tomam a palavra de forma completamente artificial, apenas para cumprir os desejos do Autor. Outro erro grosseiro é que, a certa altura, o narrador nos descreve um exército de homens a serviço de Cajango na luta contra aqueles que assassinaram seus pais e irmãs e roubaram suas terras. No final, após uma luta de faca entre Cajango e Inuri,  seu tio índio, o Autor esquece dos inúmeros jagunços de Cajango e reduz, sem qualquer explicação, o seu grupo a oito homens e uma mulher... Além disso, nenhum personagem possui complexidade, são todos, sem exceção, planos, e agem como fantoches. O Autor prima pelo uso de uma linguagem pomposa, parnasiana - por exemplo, "Enforcados serão os feridos (...). Reagir é a única saída" (p. 112) - e imagina que subdividindo o livro em quatro partes com textos que servem como uma espécie de prefácio, seguidos do número I (mas não tendo II ou III), seria algo vanguardista, eu acho... A história é toda conformada em fatos gratuitos e o desfecho se precipita como uma súbita cachoeira... 



Avaliação: NÃO GOSTEI


(Março, 2019)

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