terça-feira, 4 de abril de 2017

Contos de Belkin (1831)
Aleksander Pushkin (1799-1837) - RÚSSIA  
Tradução: Klara Gourianova    
São Paulo: Nova Alexandria, 2003, 120 páginas




Conjunto de cinco histórias escritas "pelo finado Ivan Petróvitch Belkin", "filho de pais honrados e nobres" (p. 12) - expediente utilizado pelo Autor para dar maior veracidade às narrativas. "O tiro" é uma obra-prima. O conto se desdobra em dois momentos: Silvio, um ex-membro do regimento dos hussardos (corpo de guerra formado pela cavalaria), exímio atirador, relata como suspendeu um duelo depois que seu adversário, errando o tiro, mostrou profundo desdém pela morte certa; anos mais tarde, o narrador encontra este adversário que lhe conta como se deu a vingança de Silvio. "A nevasca" é uma ótima história com desfecho romântico (e inverossímil): o jovem tenente Vladímir Mikháilovitch convence a rica Maria Gavrílovna a fugir para se casar com ele*. Maria aceita e se dirige a uma igreja numa aldeia próxima. Vladímir vai ao seu encontro, mas uma nevasca o faz perder-se e atrasar-se, de tal maneira que, ao chegar ao local combinado, não há mais ninguém. Maria adoece e os pais, acreditando que trata-se de paixão pelo tenente, tenta convencê-lo a desposá-la, mas Vladímir mostra-se irredutível em sua recusa. Ele parte para a guerra contra os franceses (1812) e por lá morre. Maria, agora herdeira de uma fortuna deixada pelo pai, continua rodeada de pretendentes. Por um deles, Burmin, coronel dos hussardos, herói de guerra, demonstra interesse. Mas ele confessa que não pode desposá-la, por ter se casado com alguém que nem conhece... E então descreve como participou de uma cerimônia durante uma nevasca e descobre em Maria a sua consorte daquela noite... "O agente funerário" é um conto 'fantástico' - na verdade, Adrian Prókhorov sonha que os defuntos que evocou de maneira insensata durante o dia aceitam seu convite para participar de uma festa. Quando acorda, percebe que o horror desapareceu junto com o sono. "O chefe da posta" é outra pequena obra-prima: parando em um centro de troca de cavalos e paragem para refeição e descanso (a posta) no interior da Rússia, o narrador conhece Avdótia Simeónovna, de apelido Dúnia, bela moça de 14 anos, menina dos olhos do pai. Anos depois, o narrador passa por ali novamente e o chefe da posta lhe conta que Dúnia fugiu com um hussardo para Petersburgo. Ele conseguiu localizá-la naquela cidade e tentou convencê-la a voltar, sem sucesso. Em outra passagem pelo local, tempos depois, o chefe da posta já morto, um menino relata que certa feita uma "linda senhora" veio até ali "numa carruagem de seis cavalos, com três filhinhos pequenos, com a babá e um cachorrinho preto" (p. 89) à procura do chefe da posta, e, ao saber de sua morte, chorou e foi visitar seu túmulo. "A sinhazinha camponesa" é típica história romântica: Lisaveta Grigófrievna é filha do fazendeiro Grigóri Ivánovitch Múromski, inimigo figadal de seu vizinho, Ivan Petróvitch Bérestov. Ela se apaixona pelo filho de Bérestov, Aleksei, e para se aproximar dele traveste-se de camponesa. Aleksei cai de amores por ela e apenas no final descobre que a camponesa é Lisaveta - as famílias se reconciliam, eles se casam. O Autor demonstra enorme poder de evocação de paisagens e profunda compreensão da alma humana.  
      
* É estranho que Vladímir Mikháilovitch (p. 40) se torne Vladímir Nikoláievitch (p. 47) e Gavrila Gavrílovitch (p. 39), o pai de Maria Gavrílovna, se torne Gavrila Mikháilovitch (p. 48) - certamente erro de redação...


(Abril, 2017)



Avaliação: MUITO BOM     


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.