O trovão entre as folhas (1953)
Augusto Roa Bastos (1917-2005) - PARAGUAI
Tradução: Campos Alberto
Luanda: Instituto Nacional do Livro e do Disco, 1980, 231 páginas
Esta coletânea, que reúne 17 contos, prova que boas intenções dificilmente redundam em boa literatura. Disposto a descrever a vida de "seres puros e inocentes" (p. 103), o Autor se esmera em comover-nos contra a opressão econômica e política (que, ao fim e ao cabo, convergem para o mesmo resultado) da população miserável de seu país, o Paraguai, que não difere em nada da situação de outros povos do Terceiro Mundo. O problema é que, para isso, promove uma visão maniqueísta da realidade, o que, ao invés de nos provocar empatia, nos causa apenas piedade, sentimento que não leva à transcendência, fundamental para a constituição da obra de arte. No afã de denunciar, o Autor carrega nas tintas naturalistas - ou seja, exacerba o real, distorcendo-o -, aproximando-se muitas vezes, para alcançar melhor seu objetivo, do mais descabelado romantismo. Inverossímeis, por isso, histórias como a da menina alemã que desaparece com os barqueiros nômades ("Os caçadores de capibaras"); a volta de um rapaz para casa, após três anos, na hora mesma em que o irmão está sendo fuzilado ("Regresso"); o reconhecimento que um homem faz de que a prostituta com quem foi para a cama é sua antiga companheira, de quinze anos antes ("Feira em dois tempos"); a morte do filho pela mãe ("Pirulí"); um combatente que enterra vivo, sem saber, o irmão querido ("O prisioneiro"); a figura de um anão monstruoso, assassino em série de crianças ("Túmulo vivo"). Outros contos constituem-se em anedotas, como "Mão cruel", "Audiência privada", "A imploração" e "A grande solução", cujo enredo desdobra-se para um final que se quer surpreendente, mas que se mostra tão somente frustrante. Há umas poucas narrativas que poderiam se salvar da impressão geral negativa que o livro nos deixa - "O velho senhor bispo", "O trovão entre as folhas" e principalmente o fim trágico de um prisioneiro político em "A escavação" e a cena de estupro coletivo em "Aqueles rostos escuros" -, mas a mão pesada do Autor pinta tudo com cores chapadas, sem qualquer nuance. Sua almejada solidariedade para com os "seres cinzentos que passam pela vida como uma leve lufada anônima" (p. 93) torna-se estranha, já que retrata seus personagens como primitivos incapazes de reações que não sejam instintivas, e não como homens e mulheres dotados de sentimentos próprios. Talvez essa sensação decorra do fato de o Autor propugnar a fantasiosa e populista ideia de "bondade natural" (p. 95) que transformaria "o verdadeiro homem do povo" em um "autêntico e flagrante revolucionário" (p. 201).
(Fevereiro, 2017)
(Fevereiro, 2017)
Avaliação: NÃO GOSTEI
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