O espelho que foge (1906-1907)
Giovanni Papini (1881-1956) - Itália
Seleção: Jorge Luis Borges
Tradução: Maria Jorge Vilar de Figueiredo
Barcarena: Presença, 2007, 129 páginas
Eis um livro que prova, de maneira cabal, a tese do critico inglês Harold Bloom (1930), da "angústia da influência"*. Os contos de Papini são "borgianos" - no entanto, não é ele discípulo do argentino Jorge Luis Borges (1899-1996), mas sim este, que confessa, na apresentação: "(...) ao reler essas páginas tão remotas, descubro nelas, atônito e reconhecido, histórias que julguei inventar e que reelaborei à minha maneira (...)" (p. 10). Nas dez narrativas que formam a coletânea, nos deparamos com todos os temas caros a Borges, como a questão metafísica do tempo ("O espelho que foge", "O dia não restituído"), o duplo / o espelho ("Duas imagens num tanque", "História totalmente absurda", "Não quero ser mais aquilo que sou", "Quem és tu?", "O suicida substituto"), a vida como sonho ("A última visita do Cavalheiro Doente"), o real como banalidade ("Uma morte mental", "O mendigo de almas"). Claro, Papini não tem a estatura de Borges: seu narrador é sempre o mesmo - (...) já me narrei tantas vezes a mim mesmo nos meus contos (...)" (p. 99) -, o que torna a sucessão de tramas enfadonha e quase previsível. Ainda assim, cabe destacar a sua poderosa imaginação e a reflexão que oferece a respeito da tensão entre realidade e fantasia, tema recorrente nos dias de hoje na ficção.
* Muito se falou sobre a presença de Franz Kafka (1883-1924) na obra do brasileiro Murilo Rubião (1916-1991), que sempre a negou, alegando inclusive que só veio a ler o autor tcheco de expressão alemã após publicar seu primeiro livro, "O ex-mágico", em 1947. No entanto, é inegável a influência de Papini, que Rubião certamente conhecia, publicado por aqui a partir da década de 1930.
Avaliação: BOM
(Novembro, 2016)
Entre aspas
"Toda a sua vida é feita de sonhos, ideais, projetos, expectativas; todo o seu presente é feito de pensamentos em torno de seu futuro. Tudo aquilo que existe, que é presente, nos parece obscuro, mesquinho, insuficiente, inferior, e só nos consolamos pensando que todo presente não passa de um prefácio, um longo e fastidioso prefácio para o belo romance do futuro. É graças a essa fé que vivem todos os homens, quer o saibam, quer não." (p. 20)
"E descobrirão esta coisa tremenda; que o futuro não existe como futuro, que o futuro é apenas uma criação e uma parte do presente, e que suportar uma vida inquieta, uma vida triste, uma vida dolente, por causa desse futuro que dia a dia nos foge e se afasta de nós, é a estupidez mais dolorosa desta vida tão estúpida." (p. 21)
"Lembrava-me muitas vezes dessa querida cidade, tão só no meio da planura, como uma exilada - sempre pensei que também existem cidades desterradas de sua verdadeira pátria (...)" (p. 23-24)
"(...) só o impossível se torna às vezes real (...) " (p. 26)
"(...) os homens sorriem sempre, quando não compreendem nada." (p. 44)
"E descobrirão esta coisa tremenda; que o futuro não existe como futuro, que o futuro é apenas uma criação e uma parte do presente, e que suportar uma vida inquieta, uma vida triste, uma vida dolente, por causa desse futuro que dia a dia nos foge e se afasta de nós, é a estupidez mais dolorosa desta vida tão estúpida." (p. 21)
"Lembrava-me muitas vezes dessa querida cidade, tão só no meio da planura, como uma exilada - sempre pensei que também existem cidades desterradas de sua verdadeira pátria (...)" (p. 23-24)
"(...) só o impossível se torna às vezes real (...) " (p. 26)
"(...) os homens sorriem sempre, quando não compreendem nada." (p. 44)
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